Escritos Fantásticos
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Leitura da Semana: Onde Moram os Anjos - Por Paulo Moreira

Sinopse:
A cidade de Três Coroas não tem anjos. Acredite, eu procurei. Eu deveria ter dados ouvidos aos meus parentes e amigos, mas estava surdo, encantado pela arquitetura barroca dos edifícios. E principalmente, por poder morar sozinho, ser sozinho. Ali eu fui independente, por não mais que sete dias.

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Onde Moram os Anjos - Paulo Moreira: Parte 1

Você riria de mim se eu lhe dissesse que Três Coroas não tem anjos. Logo quando chegamos na cidade, escondida entre as montanhas nebulosas, somos saudados pelos anjos podados da Praça dos Jovens. Querubins travessos espiam sobre o muro da Prefeitura, como se nos chamassem para brincar com eles. E todas as escolas possuem dois anjos na entrada, armados de lanças, seus cabelos de gesso caindo aos ombros. Mas anjos de verdade, ela não tem. Não mesmo. Nenhum. Acredite, eu procurei.

Todos estavam certos, e meu pai fez questão de me lembrar disso ao me levar de volta enquanto meu queixo molhava de sangue o banco do carro:

— Te dissemos que não era seguro.

Débora havia deixado claro que Três Coroas era velha demais, meus pais falaram da criminalidade. O Isaque foi o único a me apoiar, ele concluíra o ensino médio em Três Coroas, mas me obrigou a conhecer a delegacia, o hospital, e até o corpo de bombeiros, como se estivesse me preparando para alguma coisa.

Não dei ouvidos e fui, encantado com as flores e aves da Praça da Lagoa, com os anjos que brincavam pelas ruas, com a arquitetura barroca dos edifícios. E principalmente por poder morar sozinho, ser sozinho. No terceiro dia, consegui ir da Prefeitura até a Biblioteca Municipal sem topar com uma calçada solta, sem um poste para me empurrar para o meio da rua. Senti-me independente, melhor, uma pessoa.

Não pedi para alguém me puxar pelos degraus da biblioteca. Embora ela fosse barroca, velha nas palavras de Débora, havia uma rampa para me ajudar. Todos os livros estavam digitalizados nos computadores, e se eu quisesse o físico, mandava uma mensagem pela máquina e alguém vinha me trazer. Eu lia, observava os serafins a sorrirem no teto, escutava o burburinho dos namorados escondidos. Era perfeito demais. E foi nesse encanto infantil que senti que devia estranhar Três Coroas.

Era quase meio-dia. Uma voz feminina narrava João e o Pé-de-Feijão na ala infantil. Eu estava entediado, então girei as rodas de minha cadeira e fui ao seu encontro. A moça contava a história, sorridente, enérgica. Nenhuma criança a ouvia. Estava sozinha no meio das cadeiras. Foi aí que reparei. Em Três Coroas, não existiam crianças.


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Onde Moram os Anjos - Paulo Moreira: Parte 2

Descobrir aquilo me intrigou e me deixou assustado. Eu não tinha coragem de sair à noite, então ficava trancado em casa lendo um livro de poemas que havia trazido da Biblioteca Municipal.

Em cada porta um frequentado olheiro…

Deixei a maioria das caixas da mudança cheia, mas fiz questão de libertar as samambaias e levá-las para a janela de meu quarto, onde tomavam banho de sol e de lua.

…para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Depois de me embriagar com um ou três poemas, eu caía no sono. E sonhava. Sonhava bastante. Recordava todos os sonhos ao acordar. Empinava pipa, em pé, com vários garotos correndo ao meu lado. Sequestrava as bonecas de pano das meninas e prendia-as em cima de uma árvore. Jogava bola com os pés descalços, torci o dedão ao fazer um gol — que foi contra, ainda por cima. E as crianças estavam sempre comigo, me puxando para mais travessuras. Eu não conhecia nenhuma delas, mas minhas pernas oníricas as seguiam, sempre.

Perguntei sobre elas algumas vezes, sobre as crianças. E os cidadãos de Três Coroas sorriam em resposta. Estavam em casa, na escola, no clube de teatro, diziam. Mas nunca, nunca mesmo, cheguei a vê-las. Eles me olhavam estranho também, mas não com desprezo — eu conhecia o desprezo mais que ninguém. Não. Era pena, sempre.

Eu voltava para casa frustrado e me enfiava nos poemas de novo até dormir.

Quem dinheiro tiver, pode ser Papa…

E de novo, sonhava. Uma vez, acordei no meio de um sonho. Alguém quebrara a vidraça da janela. Risadas e gritos infantis correram lá fora.

— Seus pestinhas! Vou pegar todos vocês! — gritei, mas minhas pernas eram reais agora, e eu não consegui sair da cama.

Quando amanheceu, a vidraça permanecia intacta.

Decidi que iria a alguma escola, ver se havia alguém lá. Saí arrumado para causar boa impressão, mas parei logo depois de trancar a porta. A roda da minha cadeira passara por cima de algo. Era um boneco cor de leite. Segurei-o, só para derrubá-lo em seguida. Meu quintal, onde eu cultivaria meu futuro jardim, estava cheio de estatuetas delicadas de porcelana, anjos de sorriso inocente.

O anjo que eu havia derrubado sequer rachou.

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Onde Moram os Anjos - Paulo Moreira: Parte 3

Foram esses anjinhos de porcelana que me revelaram a realidade dos meus sonhos, bem como a das crianças. Mas como os sonhos, as crianças também só eram reais à noite. Eu escutava suas vozes correndo, gritando, zombando dos outros, porém jamais pude vê-las de verdade.

Ao sair à noite para entender melhor, vi que todos os adultos estavam fora. Dirigiam-se aos parques, à biblioteca, iam às escolas. Brincavam com suas crianças invisíveis. Tudo por causa dos anjos, dos anjos que não eram reais, porque Três Coroas não tinha anjos.

Toda essa estranheza me levou à Biblioteca Municipal, meu refúgio barroco, para pesquisar quem tivera a ideia de revestir a cidade com aquelas estátuas. Os livros e documentos me mostraram um nome: João Inácio de Almeida, um senhor de escravos que começou a encomendar as estátuas após o memorável 4 de setembro de 1850. Então, as estátuas não eram dali. Vieram de algum lugar ou de alguém que não fui capaz de saber naquelas pesquisas.

O mais intrigante não era a data histórica de 1850, mas os últimos oito anos de Três Coroas, quando novas estátuas foram adicionadas pelo prefeito recém-eleito, quando a cidade começou a progredir da decadência que a afogava. Perceber isso me puxou em direção à Prefeitura, e ao desastre. Meu último dia em Três Coroas seria, realmente, o meu último dia.

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A Garota de Laço Vermelho - Paulo Moreira

Sinopse:
Um templo é destruído. Um monge desaparece. E uma menina faminta segue Santiago para contar a sua história.

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A Cabeça do Padre Honório - Paulo Moreira

Sinopse:

Todo mundo diz que o Seu Miguel só ficou rico devido a um pacto com o diabo, mas na verdade, nem ele mesmo sabe se era demônio ou anjo.
Agora, a morte, com aqueles intrigantes olhos azuis, começa a espiá-lo no meio da fazenda. O Seu Miguel não tem outra opção além de contar tudo pra seus filhos, desde a maldita casa do Padre Honório até os benditos três contos de réis que lhe tiraram da miséria.


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A Cabeça do Padre Honório, por Paulo Moreira

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CRIATURAS DE ARAGUS: LÚMINAR, A LUZ

Lúminar é uma monveran associada à luz, mais especificamente à luz da lua. Segundo as lendas, suas escamas resplandecem diante da lua e suas lágrimas são capazes de formar arco-íris. Havar, a Morte, e Lúminar, a Luz, são considerados irmãos, embora sejam bastante diferentes na forma e na personalidade. A monveran foi tão amada que chegou a ter os próprios seguidores. No entanto, ela deixou Haldom há muito tempo, com a promessa de que jamais voltaria.

As escamas brancas a camuflam nas nuvens e na névoa, mas ela não é completamente branca. Seus olhos são azuis e uma cicatriz escura marca o pescoço na forma de um colar. De acordo com a lenda As Lágrimas de Lúminar, que descreve a queda de Havar, ela mesma fez tal cicatriz quando impedida de lutar contra o irmão. Após o trágico evento, ela partiu de Haldom ao nascer do dia. Durante o voo, suas lágrimas marcaram o céu com o arco-íris e a terra com o orvalho, anunciando a prisão do irmão, bem como a triste morte dos companheiros da monveran.

Dentre suas características físicas, também merece destaque a ponta da cauda em forma de seta (ou folha afiada), indicativo de natureza violenta, diferentemente da ponta da cauda de Súmare e Havis que possuem a forma de leque aberto, indicativo da natureza dócil destes últimos.

Lúminar permaneceu nas florestas alvânicas por muito tempo. Mesmo não sendo cultuada pelos povos dali, ela os protegia do avanço dos lobisomens. Recebeu o nome de Espírito Branco, pois só aparecia à noite. Talvez tenha tido algum contato com os Grifos de Malbek, já que eles a mencionam em determinado momento.

E em 999 da Era dos Reinos, Lúminar retorna à sua terra natal, sem nenhum motivo aparente, e ainda, sem se revelar para os seguidores dos monverath. O que significaria seu retorno? O que a fizera voltar depois de tanto tempo ausente?

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Imagem: The White Dragon by Solarisa (DeviantArt)

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Glaudir, O Viajante, é o protagonista da história. Ele é conhecido por viajar pelas terras de Haldom, sempre sozinho, mas morre de medo de altura, então jamais pôs os pés na Cordilheira de Andrus. Como eu sou um escritor um pouquinho cruel, o obrigei a ir pra lá logo no comecinho da sua aventura.

Abidel é conhecido como O Domador de Pássaros porque é um feiticeiro que consegue controlar o que? Os pássaros! Mas ele vive escondido lá no interior da Floresta das Grandes Árvores. Há relatos de pessoas que foram atacadas por falcões naquela região. Talvez as aves tenham sido mandadas por Abidel, não sei, mas se foram, ele deve ter tido um bom motivo para isso.

Docus não é O Sonhador, pelo menos não ainda. Sim, ele sonha, como todo mundo, e eu acho que as pessoas deviam prestar mais atenção nesses seus sonhos. Ele pergunta tanto que até seus companheiros ficam irritados (Abidel principalmente). Tem motivo para isso. Viveu isolado na Sociedade dos Issacerezes, e parece que não o deixavam sair pra nenhum canto. Mas deixaram agora. Aí tem coisa...

Tick é O Apenas Tick porque, bom, é uma piada interna. Leia o livro pra saber. É o melhor, na verdade o único amigo de Glaudir. O rapaz é rico, seu pai é o chefe dos Carroceiros, e, diz ele, conhece todo mundo de Haldom. Eu não acredito nisso. Pra mim, ele é só um exibido. Tem que ficar sozinho pra aprender a viver.
...
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