Raphael Machado
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Hoje os brasileiros comemoram o Dia da Vitória, que marca a conclusão da gesta heroica dos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial.

25 mil brasileiros, de todas as regiões, raças, etnias e religiões, saíram dos seus lares, atravessando o oceano, para triunfar sobre italianos e alemães em uma das mais sangrentas e aguerridas campanhas do conflito, a conquista da Itália - onde a geografia acidentada tornava cada avanço extremamente custoso.

Os brasileiros não estavam tão bem equipados quanto as outras tropas aliadas para as ações na Europa, bem como careciam de experiência suficiente para se bater contra as posições bem fortificadas dos italianos e alemães (inclusive das SS).

Não obstante, o brasileiro demonstrou na prática a sua extrema adaptabilidade e versatilidade, tanto às condições adversas gerais, quanto ao clima e à falta de equipamentos e suprimentos suficientes. E demonstrações de coragem abundam, como a história do sargento Max Wolff, e a dos "3 bravos" enterrados pelos alemães.

Neste, esforço, o Brasil perdeu 454 soldados e 5 pilotos, que deitaram as suas vidas para lavar a honra brasileira, ofendida pelo afundamento de diversos navios mercantes pátrios em nossa costa pelas forças do Eixo, os quais causaram centenas de mortes civis.

Nisso, o Brasil se destacou com galhardia, não só pela conquista de Monte Castelo, como pela captura da integralidade da 148ª Divisão de Infantaria da Wehrmacht, bem como dos remanescentes 90ª Divisão Panzergranadier, da 29ª Waffen-SS Grenadier e da 1ª Divisão "Italia" do ENR, pelos militares da FEB.

Para elevar ainda mais o orgulho brasileiro, a FEB jamais foi acusada de quaisquer crimes de guerra durante a sua campanha, jamais manchando as mãos com sangue inocente, tampouco com sangue de prisioneiros rendidos, sempre dividindo as suas rações com os civis das áreas ocupadas.

Mantenhamos viva em nossa história a memória dos nossos heróis.
Quando os antigos hebreus tentaram cometer genocídio contra romanos, gregos, egípcios, líbios e assírios, fossem pagãos ou cristãos, do Norte da África até a Mesopotâmia

A humilhação dos hebreus por Tito, durante a primeira Guerra Romano-Judaica é bastante conhecida - culminando no Saque de Jerusalém, a guerra justa travada pelos romanos deu-se por causa das instabilidades provocadas pela seita terrorista dos zelotes, que incapaz de entender ou aceitar a mensagem cristã de um Reino dos Céus transcendentes, ou pelo menos o quietismo de espera resignada dos saduceus, iniciaram uma rebelião atroz.

Liderados por criminosos como João de Giscala e Bar Giora, bandos de zelotes invadiam aldeias para saquear, matar e estuprar mulheres gentias; comerciantes e servidores públicos eram atacados nas estradas e, de um modo geral, a província foi lançada no caos até a pacificação romana, que culmina no Saque de Jerusalém e no dramalhão ridículo de Massada, em que os terroristas sicários (uma seita ainda mais radical que os zelotes) assassinaram as próprias famílias e a si mesmos por medo aos romanos.

Também é suficientemente conhecida a terceira Guerra Romano-Judaica, em que Simão Bar Kochba afirmou-se o Messias e liderou uma rebelião para coroar-se Rei de Israel, sendo, porém, subjugado e humilhado pelo Imperador Adriano.

Menos conhecida é a segunda Guerra Romano-Judaica, também conhecida como "Guerra de Kitos", que se deu mais no Norte da África e nas ilhas mediterrâneas do que na Palestina propriamente dita, mas se estendeu até a província em questão e a Mesopotâmia.

Essa guerra teve como "núcleo" as diásporas hebreias, anteriores inclusive ao Saque de Jerusalém. Em lugares como Alexandria e Cirenaica, os hebreus tinham isenção de impostos, imunidade nos tribunais (eles respondiam perante tribunais próprios) e uma série de outros privilégios.

Não obstante, o Saque de Jerusalém havia levado a um ressentimento que foi sustentado em segredo por décadas, até que Imperador Trajano conduziu uma campanha militar contra a Pártia, no extremo leste do Império. Enquanto Trajano conduzia a sua campanha, fariseus e zelotes iniciaram rebeliões em várias colônias hebreias em províncias imperiais, começando pela Cirenaica e se espalhando daí para a Líbia, Egito, Chipre, Mesopotâmia e Palestina.

Essas revoltas eram insufladas ainda por um sentimento apocalíptico, messiânico e escatológico que encontrava expressão em produções textuais da época, como o Apocalipse de Baruque e o 4º Livro de Esdras, obras que falam sobre a iminência da vinda do Messias e da destruição de Roma.

As revoltas usualmente iniciavam pelo assassinato das pequenas guarnições romanas locais (as guarnições eram pequenas por se tratarem, em geral, de províncias seguras do Império). O renomado historiador Dião Cássio relata que na Cirenaica os fariseus e zelotes liderados por um Lukuas, que se dizia "Rei da Judeia", cozinhavam a carne dos gentios capturados, faziam cintos de suas entranhas, besuntavam-se com seu sangue e usavam suas peles como roupas. Apenas nessa província eles teriam assassinado 220 mil homens, mulheres e crianças, praticamente todos eles civis, além de destruírem templos, banhos públicos, monumentos, bibliotecas, etc.

Depois, no Egito, para onde Lukuas liderou os terroristas, cometeram as mesmas atrocidades contra os civis locais, bem como contra os prédios públicos, destruindo, por exemplo, o Mausoléu de Pompeu, ateando fogo a Alexandria. No Chipre, fariseus e zelotes liderados por Artêmio devastariam a ilha, assassinando 240 mil cidadãos.

Os terroristas tentaram também rebeliões na Mesopotâmia, durante a campanha de Trajano, mas foram rapidamente suprimidos pelo próprio Trajano e pelo general Lúcio Quieto, um comandante de origem berbere, que é então enviado para suprimir os outros focos de rebelião.

Quieto persegue os terroristas de volta até a Palestina, onde eles se refugiam em Lida, são derrotados e executados após um breve cerco.
Ao todo, calcula-se que fariseus e zelotas assassinaram aproximadamente 1 milhão de cidadãos do Império, de todas as etnias e religiões (menos a sua). O Sinédrio, porém, incluiu os líderes dessa campanha de extermínio em massa em sua lista de mártires.
Os números oficiais das enchentes no Rio Grande do Sul falam em 107 mortos, mas esses números são integralmente enganosos.

As águas não baixaram, a lama ainda cobre milhares de residências no estado todo, há pelo menos dois municípios integralmente soterrados, mais de 400 cidades foram afetadas, de modo que os números reais, inevitavelmente, alcançarão patamar bem maior.

As pessoas de fora do estado ainda não tomaram consciência da proporção do evento, e tem até gente achando que o "governo federal já está ajudando demais" ou que "os gaúchos estão exagerando". Aliás, o fato de que toda a mídia estadual se concentra em Porto Alegre contribui para essa noção de que "foi só em POA" ou que "o pior foi em POA", quando o pior cenário se deu muito longe da capital.

Esse é um tipo de trabalho, aliás, que levará um longo tempo para ser feito. Ainda estaremos contabilizando mortos e desaparecidos por semanas, talvez meses.

Mas é fácil compreender o motivo pelo qual os números reais de mortos são mantidos baixos e não se fala em estimativas. Politicamente não faz boa figura falar em centenas ou mesmo milhares de mortes.

Para todas as instâncias do poder no Brasil, é melhor trabalhar com o menor número possível e, se possível, atribuir o evento a todas as causas imagináveis, do "racismo ambiental" ao "HAARP", passando por "falta de demarcação de terras indígenas" e "aquecimento global", além de "falta de dinheiro".

Menos à decisão consciente, tomada por todos os governos, de todas as instâncias, dos últimos anos, de não investir, não fazer obras, porque investimento público é anátema.
Se pela via esquerda tem-se usado narrativas como "racismo climático", "a culpa é do agro" e "falta demarcação de terras indígenas" para desviar e confundir a busca pelas causas da tragédia gaúcha, pela via direita se parece ter selecionado o "HAARP" e o "sacrifício satânico".

Em certo sentido, todos esses tipos de narrativa, e não só os da "direita", operam por uma espécie de "pensamento mágico", supersticioso, em que não se sabe bem como explicar de forma metódica, consistente e demonstrável o evento a partir das supostas explicações, mas espera-se que o público acredite nelas porque essas explicações ou atendem aos requisitos do moralismo contemporâneo, que vive de admoestações, expiações e sinalizações de virtude, ou simplesmente às várias formas da esquizofrenia pós-moderna crescentemente comum.

Os dois caminhos explicativos não servem senão para que os liberais, de esquerda ou de direita, possam encobrir a realidade mais simples e óbvia da falta de investimentos públicos em obras de engenharia hidráulica em um lugar particularmente sensível a enchentes.

Essas explicações "mágicas", vejam, não demandam nenhum tipo de investimento específico do Estado brasileiro, nenhuma ação concreta de manipular o espaço em nosso benefício de maneira planejada e sensata.

Elas demandam, em alguns casos, "transformações morais", em outros "leis" presenteando uns e outros grupos com bens ou benefícios, em ainda outros elas nos pedem que façamos absolutamente "nada" porque "não há alternativas" e "está tudo dominado".

São, portanto, as armadilhas convenientes de uma era apaixonada pelo niilismo e pela sofística, carente do vigor necessário para encarar problemas reais e solucioná-los com objetividade.
Ontem alguns zumbis atlantistas comentavam que "não havia tanques na Parada da Vitória", rindo e se achando muito espertos, por sua "sugestão" de que a Rússia não tinha tanques porque a Ucrânia teria destruído 6 milhões de blindados já.

Bem, hoje sabemos o porquê de haver poucos tanques em Moscou. Eles estão entrando em Kharkov.

Há algumas horas a Rússia deu os primeiros passos de uma operação em Kharkov (e que talvez envolva também Sumy) saindo diretamente do território russo de Belgorod.

Depois de horas de preparação pela artilharia russa, as unidades de reconhecimento russas já avançaram sobre Kudiyevka, Goptovka, Strelechye, Krasnoye, Borisovka e Gatishche e a Ucrânia já evacuava outras cidades próximas.

As forças principais, em número de 50 mil, ainda estão dentro do território russo, e provavelmente só entram em ação após o estabelecimento de uma faixa de amortecimento pelos russos.

Em primeiro lugar, essa operação tem como finalidade principal aumentar a "gordura" de proteção das fronteiras russas, dando maior grau de proteção aos civis russos de Belgorod e de outras cidades fronteiriças.

Mas essa operação também reforça todas as análises prévias que fizemos ao longo dos últimos anos: que a Rússia não pretende abrir mão de Kharkov em circunstância alguma e que muito provavelmente os russos pretendem avançar, no mínimo, sobre toda a margem direita do Rio Dnepr antes de até mesmo levar a sério quaisquer negociações de paz.
O Mundo Vota pelo Reconhecimento da Palestina - Mas Por Que o Mundo é Impotente para Parar Israel?

Hoje a Assembleia Geral da ONU votou majoritariamente pelo reconhecimento da Palestina como Estado soberano, o que, porém, ainda não representa o alcance do objetivo de reparação do erro histórico da ausência desse Estado entre o rol das nações.

É que a decisão final cabe ao Conselho de Segurança da ONU, que conta com os EUA entre seus membros; país que, há décadas, tem se comportado como "golem" do sionismo nas relações internacionais.

A Palestina, que até então era apenas "observador da ONU", recebe agora alguns direitos adicionais, estando impossibilitada apenas de votar na Assembleia Geral e de indicar membro para os assentos temporários do Conselho de Segurança.

A votação, naturalmente, é uma "censura" pela invasão de Rafah, região de Gaza que acumula mais de 1 milhão de civis palestinos, espremidos e com poucos suprimentos. A invasão tem como finalidade avançar com a limpeza étnica de Gaza, tornando a existência ali insuportável para que os palestinos deixem suas terras ancestrais para ir para o Egito, para a Europa e outras partes do mundo (o que, por sua vez, causará desestabilização em vários países).

Do alto de sua arrogância o representante do "povo eleito" na ONU reagiu de maneira histérica, desesperada e desequilibrada, como uma criança mimada sendo contrariada, chegando ao ponto de triturar a Carta das Nações Unidas - um ato que não faz senão demonstrar de maneira "gráfica" o desprezo que Israel tem pelo Direito Internacional.

É impossível entender Israel e a mentalidade de sua elite sem absorver que, na opinião deles, há leis para os "goyim" (nós, o gado) e leis especiais e excepcionais para eles, os "eleitos" (na verdade, pela Cabala [especialmente em suas versões antinômicas], propriamente "portadores" de Deus). É por isso que, para eles, é inaceitável que se queira submeter as suas ações ao mesmo crivo ao qual as ações de outras nações são submetidas.

Não obstante, apesar de votações, críticas e condenações, além de algumas rupturas comerciais e diplomáticas, a maior parte do mundo observa imóvel a limpeza étnica em questão. Naturalmente, a atitude é particularmente vergonhosa em se tratando dos países árabes vizinhos, os quais, excetuando o Hezbollah libanês e outras milícias árabes associadas, nada fazem contra Israel (ou até colaboram com ele, como a Jordânia).

Da parte dos países árabes isso se dá porque as suas elites são traiçoeiras, apaixonadas pelo ouro ocidental, postas no poder pelo Reino Unido. Algumas dessas elites (não raro maçônicas), inclusive, transformam os seus palácios presidenciais (ou reais) em prostíbulos, enquanto propaganda o salafismo mais fundamentalista para a plebe.

Mas há também um motivo que não pode ser esquecido. Como já apontado por alguns analistas, lidar com Israel é difícil por ser um país afetado por um caso extremamente desconcertante de psicopatia coletiva. Essa psicopatia coletiva, associada a um profundo narcisismo, não só facilita o genocídio mas está, também, por trás da Opção Sansão.

A Opção Sansão, ainda não suficientemente divulgada, é o projeto israelense de tentar iniciar um holocausto nuclear caso, atacando inclusive alvos europeus, em caso de grande derrota militar, independentemente de qual seja o exército inimigo.
Hoje o sentimento anti-Globo é encontrado majoritariamente na direita. Um sentimento que se tem intensificado, inclusive, com a tragédia gaúcha.

Mas é um sentimento anti-Globo amputado, caduco, dissonante. É um sentimento anti-Globo que concorda com tudo que a Globo defende em geopolítica e em quase tudo que ela defende de economia. Basta perguntar sobre temas como "Rússia e Ucrânia" ou "privatizações".

A relação da esquerda com a Globo, por outro lado, tornou-se ainda mais tóxica, porque há nela uma espécie de rancor envergonhado que ela precisa sublimar, porque ela se vê (equivocadamente) constrangida a aceitar a Globo como aliada em tudo que envolve a crítica política nacional.

Essa "parceria", porém, transborda e vaza, penetrando os poros do esquerdista, de modo que, sem nem ter consciência disso, o esquerdista médio brasileiro vão sendo gradualmente "fagocitado" pela moldura mental da Rede Globo.

Esses embaralhamentos no tabuleiro político brasileiro são uma das causas pelas quais muitos esquerdistas estão virando "bots" progressistas "centristas", assumindo uma posição geopolítica cada vez mais "pelas democracias e contra os autoritarismos", e abandonando gradualmente uma antiga postura rígida contra as privatizações.

É claro que isso tem outras causas e constitui um fenômeno internacional, mas a "abertura" para a Globo obviamente acarreta certos efeitos.

O jovem militante esquerdista que 13 anos atrás disse "não falo com mídia corporativista burguesa" para uma repórter da Globo deve aparecer hoje aos olhos do esquerdista "geração Z" como um dinossauro stalinista, uma múmia de tempos tão distantes que chegam a ser incompreensíveis.
Recentemente alguém em uma rede social compartilhou um vídeo de um jovem marroquino dançando uma música de "funk carioca", e comentou que isso era expressão do "soft power brasileiro" no Terceiro Mundo, como algo positivo.

Me parece haver uma confusão aí e essa confusão é a de achar que a internacionalização de um produto cultural plastificado representa algum tipo de "poder" e deveria ser motivo de "orgulho" nos casos em que o "BigMac" em questão for brasileiro.

Isso, em parte, deriva da incompreensão da natureza do globalismo. O globalismo não é unilateralmente ianque. Muitos elementos de outras culturas também se desterritorializam e se internacionalizam de forma massificada. O funk não é um objeto cultural dotado de qualquer qualidade superior como expressão de nosso Ser nacional, mas um subproduto marginal da indústria cultural ocidental.

A projeção cultural só é "poder" quando implica algo concreto nas relações internacionais, e a exportação de estrume subcultural não implica absolutamente nada. Talvez, inclusive, nos transforme em "alvo fácil".

Explico: O mundo caminha na direção de uma reemergência de expressões da Tradição, com populismos conservadores ascendendo por todo o planeta. Quando o Brasil em vez de exportar cultura de qualidade começa a exportar lixo (sob os aplausos dos "nacionalistas"), no dia em que patriotas conservadores de outras nações ascenderem eles nos apontarão como "mau exemplo" e farão campanhas pelo "expurgo" de nossas exportações culturais de suas nações.

O que, por sua vez, redundará em perda de "soft power". Basta pensar a conotação negativa que termos como "Coca-Cola" e "McDonald's" (e os substantivos abstratos neles fundados "coca-colonização" e "mcdonaldização") assumiram, e não apenas em meios de esquerda.
O circo armado em torno do cavalo recentemente resgatado em Canoas tornou inviável abordar antes de agora uma significância do resgate que escapa ao debate rasteiro sobre "cavalo ou humano", bem como a disputa idiota sobre "quem o salvou".

Me refiro aqui à dimensão simbólica do cavalo e seu resgate; evento que, em minha opinião, contém o valor próprio de um "bom agouro", ou seja, de uma co-incidência favorável para o estado gaúcho.

Se para muitos não gaúchos interessados na história do resgate, o cavalo em questão foi rebaixado praticamente à categoria de "pet" (daí, provavelmente, o nome "Caramelo" atribuído aleatoriamente a ele por certas celebridades intrometidas), para pensarmos a dimensão do resgate no imaginário gaúcho é necessário recordar que o cavalo crioulo é o animal-símbolo do estado do Rio Grande do Sul.

Esse status público de animal-símbolo não é senão o reconhecimento de que existe algum tipo de vínculo fundamental entre o "ser gaúcho" e a figura do cavalo, o que é evidente para quem conhece a história e cultura do gaúcho enquanto "etnia".

O filósofo argentino Alberto Buela, que não raro se debruça sobre o "gauchismo", comenta que o cavalo, e a cultura do cavalo, são elementos basilares do que ele chama de "ordem crioula", ou seja, o conjunto de valores e princípios que regem o imaginário gaúcho. O cavalo crioulo descende do rebanho equino trazido por Pedro de Mendoza para Buenos Aires no início do século XVI, e que foram soltos pelo pampa, rapidamente alcançando um tamanho de centenas de milhares e se espalhando do sul do continente até o Peru e o sul do Brasil.

Essa expansão do cavalo crioulo foi fundamental para o surgimento da figura do gaúcho como atividade e identidade ao longo do século XVIII, a partir da mistura entre colonos ibéricos e índios guaranis, minuanos e charruas. O cavalo garantiu a mobilidade necessária para pastorear rebanho bovino pela paisagem horizontal do pampa, na rota do gado do atual Uruguai até São Paulo, tornando o gaúcho uma figura sinônima de "vagabundo", no sentido de "homem que vaga", não raro à margem da lei, como o Martín Fierro, de José Hernandez.

O gaúcho, de fato, passava tanto tempo a cavalo, vivendo como nômade, que ele é simbolicamente associado ao centauro na literatura tradicional gaúcha - gaúcho e cavalo seriam um só ente indivisível. José de Alencar, por exemplo, diz: "O gaúcho tem um elemento, que é o cavalo. A pé está em seco, faltam-lhe as asas. Nele se realiza o mito da antiguidade: o homem não passa de um busto apenas; seu corpo consiste no bruto. Uni as duas naturezas incompletas: este ser híbrido é o gaúcho, o centauro da América".

"Centauro do pampa" é como o gaúcho aparece em O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, obra na qual também os gaúchos adquirem características espirituais e psicológicas atribuídas aos "equinos", o que vai tanto da "nobreza de caráter", "orgulho" e "altivez" até o "sangue quente" e certa "agressividade", e um caráter "viril" exacerbado.

Esse caráter "liminar" do gaúcho, meio homem, meio cavalo, semicivilizado, semibárbaro, parece estar sincronizado com o próprio caráter liminar da vida de fronteira. A existência na fronteira, nos ermos descampados fronteiriços longínquos das metrópoles, sempre parece adquirir certos elementos em comum, da cultura do cavalo a um caráter beligerante, passando por uma espécie de nomadismo guerreiro.

Alguns autores recentes já demarcaram, por exemplo, as semelhanças simbólicas entre o gaúcho e o cossaco, figuras míticas que ocupam papéis liminares transitando entre a figura do "herói" e do "rufião". Essa semelhança estepária do gaúcho é reforçada pelo fato de que por muito tempo o "rapto", geralmente por laçada, foi um dos principais métodos de "noivado" entre os gaúchos do pampa (eu particularmente conheci um camarada cujo avô casou com uma índia que ele havia laçado no pampa), e ainda hoje é um dos principais meios de noivado no Quirguistão e no resto da Ásia Central.
Dugin, ao descrever o "ser" do indo-europeu e depois de comentar sobre o simbolismo da "carruagem da alma" em Platão, se debruça sobre a figura do "centauro" como sendo o tipo humano no qual o elemento guerreiro se sobrepõe desmesuradamente sobre os outros elementos; a figura do cavaleiro, fusão entre homem e cavalo, é a absolutização do princípio heroico.

Não é casual, diz Dugin, que o mito grego descreve muitos heróis clássicos como tendo sido educados e preparados por mestres centauros. De fato, um texto antigo perdido chamado "Os Preceitos de Quíron" (fazendo referência ao mais famoso dos centauros, Quíron, tutor de Asclépio, Aquiles e Jasão), constituiria uma espécie de "manual" de religião e ética para jovens gregos, que começava pelo "culto aos deuses eternos" e continua também orientações sobre conduta pessoal e virtudes.

O centauro, portanto, ao mesmo tempo que era a exacerbação do elemento heroico-guerreiro, não deixava de conter uma dimensão filosófica quando ele preservava a sabedoria e o respeito pelo sagrado, e não se deixava dominar por sua dimensão animalesca.

No mesmo sentido, tem um papel importante na cultura gaúcha a figura do "sábio", não raro um gaúcho velho e experiente que condensa verdades profundas sob a forma de lacônicos ditos populares.

Seria possível explorar muito mais a figura do cavalo e sua relação com o gaúcho, mas esses pequenos comentários e alusões bastam para se perceber que para o gaúcho o cavalo não é um "pet" tampouco um mero "animal" qualquer, sendo propriamente "metade" do seu próprio ser.

A salvação do cavalo crioulo de Canoas, portanto, pode ser vista como um bom augúrio para o futuro do Rio Grande do Sul e do povo gaúcho.
Hoje, Dia das Mães, a Globo decidiu exibir "Minha Mãe é Uma Peça", em que um homem parodia uma "matriarca" brasileira.

O humor em si é pobre, para gargalhar de algo ali é necessário um grande esforço - mas esse tem sido o estado do "humor oficial" no Brasil nos últimos anos, de qualquer maneira.

Desnecessário me "explicarem" que homens interpretando mulheres é algo comum no humor ou no teatro, como o kabuki japonês (em que tradicionalmente não existem atrizes mulheres). Me "explicar" essas coisas é como querer ensinar missa ao padre.

Mas no Dia das Mães não seria mais adequado, na hora de homenagear ou recordar a "mãe", usar uma mulher? Poderiam exibir o filme do "homem vestido de mulher" amanhã ou tê-lo feito ontem, ou então na TV paga, e não na TV aberta.

Se engana quem acha que "não há nada de mais". É ser ignorante de semiótica. Não há nada de mais nesse filme em si, selecioná-lo para exibição hoje em detrimento de outros filmes tem, de fato, um significado particular que passa pela diluição do significado do "ser mulher".
Todos os meus artigos, textos e comentários "sobre a Rússia", "sobre Belarus", "sobre a China", "sobre o Irã", são, na verdade, muito obviamente sobre o Brasil, e não sobre esses países.

Todas as minhas postagens em redes sociais são sobre o Brasil, e isso é tão evidente que me causa espanto ter que explicar.

Um dos métodos pedagógicos tradicionais mais antigos é o dos "exempla", ou seja, a transmissão de conhecimentos, princípios e doutrinas por meio de anedotas ilustrativas, sejam reais ou fictícias.

As "Vidas Paralelas" de Plutarco, e as "Vidas dos Doze Césares" de Suetônio, como a maioria das biografias antigas e medievais de "grandes homens" não são obras historiográficas propriamente, mas manuais de conduta, exemplos cujo fundamento é o esforço por exercer uma influência positiva.

A ideia é de que os homens que querem ser "grandes" devem se inspirar em outros grandes homens. De modo que César se inspiravam em Alexandre, como Napoleão se inspirava em César.

A "parábola" pertence ao mesmo cosmo didático tradicional, mas é uma forma mais específica de anedota que possui como finalidade a exposição de uma verdade metafísica.

Os povos também, em minha opinião, devem buscar os exemplos positivos nas sagas históricas de outros povos, porque cada povo é a instanciação particular da universalidade do homem, de modo que as "diferenças" entre povos não nos impede de aprender com todos os outros. Os povos não existem em bolhas. E cada informação sobre coisas que "estão dando certo" ou "são interessantes" em outros países deveriam ser absorvidas e adaptadas ao Brasil.
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Nada é possível sem os grandes exemplos que inspiram à ação.
De celebrada, hoje a Princesa Isabel está quase esquecida. No lugar da sua memória jaz um vácuo ocupado por uma mistura confusa de constrangimento e ressentimento que embaralha o nosso entendimento sobre o fim da escravidão no Brasil.

O esquecimento da centralidade da Princesa Isabel na abolição da escravatura é, em primeiro lugar, fruto de um revisionismo ideologizado que considera vergonhosa a verdade histórica de que o fim da escravidão no Brasil foi protagonizado, em boa parte, por brancos, com destaque especial de Isabel.

Para afagar a autoestima e construir uma mitologia de protagonismo na libertação de si mesmo por parte dos negros brasileiros enquanto coletividade, apaga-se o papel da Princesa Isabel, considerado politicamente incorreto e até mesmo racista.

Nessa narrativa, a abolição da escravatura teria se dado por algum medo por parte das elites oligárquicas do Brasil em relação a revoltas de escravos. Os oligarcas estariam apavorados com a possibilidade de uma Revolução Haitiana no Brasil, e para evitar o "holocausto revolucionário" (sonho molhado da facção racista do "movimento negro" [hoje a mais midiatizada, financiada e posicionada]) teriam libertado os escravos brasileiros.

A realidade, porém, é que no século XIX houve um pequeno punhado de revoltas de escravos, todas elas rapidamente sufocadas e nenhuma nem mesmo perto de ameaçar as estruturas do poder no Brasil. O Brasil, afinal, não era o Haiti. Diferentemente do Haiti, em que havia uma estratificação social-racial mais rígidas, o Brasil, apesar de sempre ter sido hierárquico, quase não ergueu barreiras especificamente raciais. A escravidão no Brasil era generalizada e estava entranhada a ponto de haver escravos donos de escravos, bem como negros retintos donos de mestiços de pele mais clara (escravos brancos, até onde se sabe, não houve no Brasil).

Por mais atroz que fosse a escravidão em si mesma, pela redução do homem a propriedade e commodity, o Brasil jamais foi o Haiti.

Apesar, portanto, da falta de evidências empíricas ou de argumentações razoáveis, essa tese politicamente correta é uma das mais populares, inclusive nos meios acadêmicos, que consideram estar assim empreendendo uma "reparação histórica". É uma "mentira nobre", consideram os historiadores brancos e mestiços cheios de "amor pela humanidade" em seus corações.

Menos aberrante, mas não menos atentatória contra os verdadeiros heróis da história, é a tese materialista-economicista que reduz todo evento histórico a uma rede de relações de poder, fatores socioeconômicos e interesses de classe, reduzindo os agentes humanos quase a "médiuns" de forças históricas impessoais.

O problema desse tipo de narrativa é que ela também é ideológica e se baseia em uma petição de princípio. Ela é circular. Ora, é óbvio que sempre há uma dimensão econômica em todo evento histórico - mas raramente se consegue demonstrar a causação econômica de um evento histórico de grande importância. Sincronicidade não é causalidade (verdade tão simples, mas tão esquecida).

A realidade é que a tese do "interesse classista pela abolição", para se sustentar, dependeria da existência no Brasil de uma forte burguesia industrial nascente, já dotada de "consciência em si e para si" e capaz de se organizar e mobilizar por seus interesses classistas pressionando o Imperador. Isso simplesmente não existia no Brasil. Qualquer estamento que pudesse ser chamado de "classe burguesa" no Brasil do século XIX não era senão composto de uma classe média burocrática e de um pequeno-médio empresariado ainda engatinhando em qualquer concepção de produção industrial.

Tampouco se pode atribuir, aí, o protagonismo à Inglaterra, já que a sua pressão era tão somente pelo fim do tráfico escravagista, e o interesse pela escravidão brasileira desaparece entre os ingleses após a Lei Eusébio de Queirós. Após o fim da importação de escravos pelo Brasil, os ingleses deixam de pressionar o Brasil. A abolição viria quatro décadas depois.
A realidade é que, por um lado, trabalho dos críticos da escravidão entre os intelectuais (muitos deles mulatos), o clero, oficiais militares e a família real fez a diferença em mover, lentamente, a opinião pública contra a escravidão, até ser quase inevitável a sua abolição.

O trabalho foi, na prática, iniciado por José Bonifácio, que pagou pela tentativa de abolir a escravidão já em 1823 com os seus cargos - mas a semente já havia sido plantada século antes com condenações eclesiásticas à escravidão.

(O abolicionismo de Bonifácio é, usualmente, atribuído a um iluminismo liberal, mas eu o leio como fruto, na verdade, de um nacionalismo romântico que via o povo como totalidade orgânica dos cidadãos, uma visão impossível de realização com o país fraturado entre não escravos e escravos).

Isso foi reforçado por uma bula papal de 1839 que condenava mais explicitamente a escravidão africana e orientava o clero católico a se posicionar nesse sentido.

O próprio Pedro II já pressionava na direção da abolição desde pouco após o golpe da maioridade, mas preocupado com a possibilidade de perder o trono, não se moveu decisivamente na direção da abolição até que a opinião pública já havia virado a favor da abolição. A partir de então, as elites oligárquicas aceitaram uma abolição gradual - mas ela, na verdade, esperava que o ato final da extinção da escravidão nunca chegasse, e que fosse possível simplesmente ir convertendo a escravidão em uma espécie de servidão neofeudal - o que, de fato, ela virou na República Velha.

Isabel era ainda mais radical no antiescravismo e várias vezes criticou seu próprio pai pela falta de avanços na abolição em cartas privadas reveladas apenas nos últimos anos, e nisso estava alinhada a toda a militância católica da época, que através de seus jornais e periódicos pressionava contra a escravidão.

A realidade é que especificamente Princesa Isabel foi decisiva, a nível pessoal e como liderança católica, no fim da escravidão no Brasil. E ela pagou por isso com o Trono - e sabia que pagaria por isso com o Trono.

É impressionante, por exemplo, que comemoremos simultaneamente a Abolição e a Proclamação da República, sem traçar a necessária conexão entre as duas coisas, quando o golpe da Proclamação não foi senão a revanche ressentida das elites oligárquicas indignadas com a abolição "repentina" e temerosas de uma possível reforma agrária que os Bragança estariam preparando.

Isso, inclusive, é tema comum nas obras escritas entre o final do século XIX e o início do século XX. Foi apenas recentemente que esquecemos de onde veio a nossa primeira República.

Isabel perdeu o Trono, mas recebeu do Papa uma rosa de ouro, símbolo que foi, inclusive, imortalizado no samba brasileiro (que, infelizmente, também esqueceu as próprias raízes, e hoje não faz senão repetir as teses caducas de um "de-colonialismo" importado).