Raphael Machado
3.5K subscribers
134 photos
15 videos
395 links
Download Telegram
https://www.youtube.com/watch?v=CIvqTxRufSI

Netanyahu está nos EUA sendo ovacionado de pé enquanto convoca os EUA para uma guerra no Oriente Médio, se faz de vítima e nega o genocídio palestino. Simultaneamente, humilha os EUA, levando cuecas usadas para a Casa Branca lavar. Entre EUA e Israel, quem é o senhor e quem é o servo?
A associação feita pela mídia de massa e pela esquerda liberal da figura de Nicolás Maduro à figura de Jair Bolsonaro - associação que parece mais instintiva do que refletida - é mais uma prova de que a contradição principal hoje não é entre direita e esquerda, mas entre forças políticas liberais e iliberais.

Aqui importa menos o fato de que Bolsonaro, na prática, governou como um presidente economicamente liberal do que o fato de que ele é lido e percebido na esfera pública (mídia, academia, burocracia) como "iliberal" no sentido político e cultural.

A política segue tendo um caráter oposicional que se expressa em uma distinção amigo/inimigo (a qual é mediada pelas normas procedimentais da democracia para que seja sublimada e não descambe em guerra civil), mas essa distinção amigo/inimigo não corresponde mais à distinção direita/esquerda.

A tendência é que essa contradição se intensifique ainda mais, de modo que veremos com frequência crescente ataques coordenados entre forças liberais de esquerda e direita contra antigos supostos aliados de um ou outro desses setores.

É tão inevitável que a direita se volte contra Orban e Bukele quanto a esquerda realmente abraçar uma campanha contra Maduro.

A lição que precisamos tirar disso, além de superar finalmente as categorias direita/esquerda (ou seja, parar de se identificar nesses termos, parar de julgar personagens e fenômenos políticos nesses termos), é que precisamos começar a construir uma mobilização política atualizada, adequada para a contradição principal - uma mobilização política de todos os inimigos do liberalismo.

Essa mobilização, naturalmente, deve ser feita ao redor de uma oposição autêntica ao liberalismo, tanto econômico quanto cultural. Ou seja, aqui não estamos falando de nada que tenham minimamente a ver com o governo Bolsonaro (ainda que bolsonaristas que tenham rompido com o liberalismo econômico devem ser bem-vindos).

Do contrário, estaremos perdidos, porque o inimigo já está organizado do outro lado.
Existem pessoas que possuem o espírito livre, e existem pessoas que possuem almas servis. E isso se expressa, não raro, em suas escolhas políticas.

Nas condições da unipolaridade, se o seu país não é o hegemon só existe a opção de ser escravo ou rebelde. Não há nenhuma contradição no fato de que essa escravidão pode implicar vantagens, e que a rebeldia pode implicar sofrimento e penúria.

Isso é um dado óbvio.

É típico que para tornar a servidão mais atraente, os EUA distribuam vantagens, como migalhas que o dono arremessa da mesa para o cão doméstico. Em troca da liberdade e da soberania, portanto, os EUA podem construir condições favoráveis que permitem uma moderada elevação da prosperidade material de um dado país.

É quase como o mito neoliberal do "trickle-down economics", de que o enriquecimento dos ricos refletiria no enriquecimento dos pobres - com a diferença de que, de fato, algum grau de prosperidade precisa chegar nos escravos para afastá-lo do "inimigo".

Na contramão, é um dado das condições da unipolaridade que o "anti-imperialismo" tenha um preço.

Elites compradoras ligadas à ordem anterior se comportarão de maneira selvagem para evitar a ruptura completa com o hegemon. O próprio hegemon reagirá com tentativas "suaves" e "duras" de desestabilização e intervenção, de ONGs a sanções, passando pelo financiamento de golpistas e mercenários.

Parte do próprio povo (aquela parte que não é nada além de "fome de consumo") pode, em reação à piora nas condições de vida, inclusive se opor a um governo anti-imperialista, já que essa parte do povo é incapaz (por falta de espírito) de se sacrificar em prol daquilo que está acima de bens materiais.

Não obstante, para quem tem o espírito livre é autoevidente que é melhor ser soberano e, portanto livre, mesmo que pobre, sob cerco e em uma situação de ameaça permanente - do que ser um escravo eunuco, cercado de mediana prosperidade.

Isso não é algo discutível, é uma questão de uma distância ontológica. Nem todos os homens são feitos iguais, uns nasceram para a guerra e a liberdade, outros nasceram para o conforto e a servidão.

Essa dualidade é importante para entender o Brasil porque quase sempre o que triunfou no Brasil foram os gemidos da alma covarde, temerosa do confronto e do derramamento de sangue, que com seus lamentos silenciou o brado dos ousados.

Não faltam aqueles, por exemplo, que ainda hoje elogiam a política externa filoatlantista de boa parte do Segundo Reinado e da República Velha, que fecham os olhos para o problema óbvio da aliança de Vargas com os EUA e que realmente acham que o regime militar pré-Geisel, com seu servilismo atlantista de quem pretendia obter "permissão" para ser o país-líder da América Latina, foi realmente um período de soberania. Tal como não faltam aqueles que acham "natural" a nossa adesão ao Consenso de Washington.

E todo questionamento nacionalista a essa situação, toda cobrança de coragem e ousadia, é sempre respondido com "Mas somos tão fracos! Vejam nossa fraqueza! Nada podemos fazer! Ai de nós se desafiarmos nossos senhores!".

Como eu falei, é uma diferença espiritual. Todos somos homo sapiens, mas não somos iguais. Alguns têm espírito de lobo e harpia, outros têm alma de ovelha e bonobo.

Em tempo, um viva a Hugo Chávez, libertador da Venezuela, o homem que deu a seu país o período de maior prosperidade e desenvolvimento da Venezuela, e que desafiou todos os príncipes e potestades da satânica Nova Ordem Mundial.
A cobertura midiática brasileira dessa abertura das Olimpíadas de Paris está ridícula.

Os jornalistas não conseguem se segurar (ou foram orientados) e inevitavelmente precisam ironizar e criticar a cada vez que passa uma delegação de um país contra-hegemônico.

Da ridicularização aberta da Coreia do Norte à "palestrinha" feminista durante a passagem das delegações do Irã e do Iraque. Críticas contra Israel? De jeito nenhum.

Enquanto isso, se derreteram em elogios com a passagem da delegação dos EUA.
Ao contrário do que neocons estão dizendo os muçulmanos não têm absolutamente nada a ver nem com a paródia satânica que fizeram da Santa Ceia nas Olimpíadas de Paris. Isso não foi feito em prol deles.

Tudo isso é feito para agradar uma elite "eleita" que não pode ser nomeada.

E essa elite é a mesma elite que financia o neoconservadorismo e é por isso que os neocons estão sempre tentando desviar a atenção para os muçulmanos, colocando neles a culpa por uma crise civilizacional que começou há séculos e tem sido gerenciada por uma elite que não podemos expor.

Os muçulmanos, creiam-me, estão tão horrorizados e espantados quanto os cristãos com essa abertura olímpica e inclusive estou vendo já muitos deles criticando e debochando.
Macron, hoje, acabou de cavar uma grande vitória na guerra cultural com essa abertura das Olimpíadas.

Mas para o campo contra-hegemônico. Foi gol contra a favor da Rússia, China e Irã.

Muita gente, tanto nas Américas e Europa quanto no resto do mundo nunca tinham visto um "suco" tão concentrado de "Ocidente" quanto agora.

Os ingênuos que ainda tinham fé nesse negócio de "Ocidente judaico-cristão" dos neocons, entenderam o que há por trás desse discurso e estou vendo muita gente "desertando" de tudo que tenha a ver com essa galera.

Estou vendo russos chocados e o único comentário deles agora é "Realmente, estávamos certos esse tempo todo! Ainda bem que pulamos fora!". Ou seja, Macron confirmou como "fato" tudo aquilo que o campo contra-hegemônico vinha dizendo.
Abertura das Olimpíadas de Paris: A Civilização Ocidental se revela sem máscaras aos olhos do mundo

Não há nada de surpreendente na abertura das Olimpíadas de Paris, exceto pelo fato de que, talvez, a maioria das pessoas não tenha visto uma concentração tão grande de inversões e deturpações históricas, culturais, simbólicas e axiológicas quanto nesse evento.

Para ser justo começarei por um elogio. A ideia de realizar uma abertura fora de um estádio, com o objetivo de valorizar a "paisagem" e os cenários típicos da cidade-sede, tem algo de interessante. Mas é isso. Essa foi a única coisa de interessante nessa abertura (houve também umas poucas referências cinematográficas e literárias interessantes no ponto em que se passou pelo cinema francês), e essa possibilidade nem mesmo foi bem aproveitada pela França.

Em primeiro lugar, os atletas olímpicos "desfilaram" em barcos, sob chuva, em um rio extremamente contaminado por poluição (fruto da decadência urbana de Paris, que fora dos bairros icônicos não é mais que uma favela). Os barcos pareciam improvisados, como se o governo tivesse "encampado" temporariamente barcos aleatórios e os aproveitado para a abertura. Agora é torcer para que ninguém fique doente por causa da chuva (atletas de alto rendimento, às vezes apresentam fragilidades de saúde porque o esforço excessivo que é típico de suas atividades impacta em suas respostas imunológicas), e que ninguém tenha tido contato com a água do Sena.

Deixando isso de lado, porém, aproveito para elogiar principalmente as delegações africanas, asiáticas, pacíficas e árabe-islâmicas, porque foram as que mais consistentemente buscaram representar as suas identidades etnoculturais. Algumas delegações ibero-americanas idem.

Quanto aos europeus, eles ou têm vergonha daquilo que são, ou simplesmente esqueceram ou não sabem quem são, então as suas delegações são sempre genéricas, e têm mais de "ocidentais" do que de "europeias. Mas isso, claro, não têm nada a ver com a organização francesa da abertura em si.

Porque quanto à abertura o que nós vimos foi uma exibição do âmago da civilização ocidental. Eu não poderia aqui falar em "coração", porque o âmago da civilização ocidental está, na verdade, em sua "cloaca" - que foi exatamente o que vimos.

Em geral, as aberturas olímpicas tentam contar um pouco da história do país-sede. Passa-se por séculos ou mesmo milênios de história. Os povos buscam mostrar ao mundo as suas raízes longínquas, os seus ancestrais heroicos, os grandes feitos de seu passado. Nas Olimpíadas de Paris não tivemos nada disso.

Nenhum elemento da França pré-Revolução Francesa se fez presente. E esse é um fato importante que precisa ser esmiuçado e enfatizado. De fato, o "neoiluminismo" foi o tema geral da Abertura das Olimpíadas, ou seja, a atualização do Iluminismo setecentista para a pós-modernidade woke. São os mesmos valores, mas adaptados para a era do pós-indivíduo e da sobreposição das pulsões à razão "patriarcal" e "fascista" - que não é senão a consequência lógica de elevar a razão acima de seus limites.

A impressão que se tem, de fato, é que a França nasceu em 1789. E realmente, a França de Macron nasceu em 1789. A França pré-1789 - aquela França de Vercingetorix e dos celtas, de Carlos Magno e dos paladinos, de Luís IX e dos cruzados, de Joana d'Arc e da Guerra dos 100 Anos, e mesmo a já modernizante França de Luís XIV - é outro país.

Não sou "eu" que estou dizendo. Macron e os seus caminham sobre os chãos franceses como se fossem parasitas alienígenas que vagam sobre as ruínas de uma civilização inimiga conquistada. Não foi casual que Macron reagiu com indiferença ao incêndio da Catedral de Notre-Dame. Ele não se emocionou porque há 2 Franças, a França europeia e a França ocidental. E era isso que se fez questão de evidenciar nessa abertura.
Entenderam o porquê de eu sempre insistir na existência de uma distinção fundamental entre uma "civilização europeia", adormecida, sedimentar, oculta, e uma "civilização ocidental", disposta sobre as ruínas e fragmentos dessa civilização anterior e cujos valores são antitéticos e descontínuos em relação aos seus valores? Não sou apenas "eu" dizendo. A própria elite francesa exibe isso aos olhos do mundo. Não precisam crer em mim. Vejam.

Que se tenha escolhido o injusto assassinato de Maria Antonieta para expor as "origens" da França é significativo. Essa é uma França que nasce de uma traição maçônico-frankista que culmina em um assassinato ritualístico do "Sol" (encarnada na figura do Rei). Aquilo que nasce desse ritual e que se espalha pelas capitais europeias e cujo centro é, posteriormente, deslocado para os EUA, é precisamente o espírito obscuro da subversão contra-iniciática e da dissolução universal. A chuva de sangue é o "sacramento" satânico da França de Macron.

Aqui precisamos apontar, ademais, que mesmo de uma perspectiva técnica essa abertura foi sofrível. Crianças de grupos amadores de dança seriam capazes de organizar algo melhor. Não havia qualquer coordenação motora ou sincronia, por exemplo, na exibição de "cancã" realizada por pessoas vestidas de rosa. Comparemos isso com a sincronia absoluta das exibições da abertura das Olimpíadas de Pequim, por exemplo. Uma dança posterior, no estilo de "dança de rua", dava a impressão de que os dançarinos estavam fantasiados de mendigos - talvez uma homenagem ao lúmpem francês, a classe que serve de sustentação quantitativa para o macronismo.

Foi curiosa a pretensão de que as Olimpíadas de Paris estavam, em sua abertura, "celebrando a mulher" em um sentido geral, quando ela havia acabado de exibir uma mulher decapitada pelos jacobinos. Mas é necessário entender que quando o Ocidente celebra "as mulheres" é de uma maneira muito peculiar. Não são "todas as mulheres", não são as "mulheres francesas", mas as "mulheres ocidentais da França" - o que obviamente incluiu, na seleção de "10 ícones", mulheres que não eram etnicamente francesas; com as que eram etnicamente francesas só podendo ser, obviamente, abortistas, anarquistas, feministas e, naturalmente, a pedófila Simone de Beauvoir.

Em outra parte da abertura, celebra-se um poliamorismo pós-gênero, com um triângulo amoroso entre um homem, uma mulher e uma pessoa andrógina de sexo não esclarecido. Além de, obviamente, celebrar a desconstrução de concepções tradicionais de "homem", "mulher", "amor" e "família" (em paralelo, dançarinos em roupas que não diferenciavam entre sexo deixavam bem claro que se tratava, ali, precisamente, de um impulso pós-gênero e, portanto, transumano), é necessário aí fazer referência à inversão satânica do mito do andrógino.

O mito do andrógino (presente mesmo no Cristianismo, bastando que recordemos que Adão já continha nele Eva antes de Deus retirar a sua "costela") aponta para um certo princípio de unidade cósmica. Ela não é meramente sexual, mas é um símbolo do Um, o qual é alcançado, simultaneamente, por uma "conexão ritual" com o elemento do sexo oposto que subsiste em nosso interior (o "animus/anima" de Jung), bem como por meio do casamento enquanto rito sagrado, o qual só pode ser concretizado com uma pessoa do sexo oposto.

Pretender alcançar o "Um" materialmente por meio da indeterminação e fluidez sexual e por meio de práticas sexuais "desconstrucionistas" não é senão uma paródia, uma inversão do casamento tradicional e dos ritos tradicionais dos povos. Não é a ascensão na direção do Um, é a queda na dissolução caótica, como um nigredo sem fim.

Um terceiro elemento ritualístico aparece na paródia da Santa Ceia, protagonizada por elementos que representavam precisamente essa ponte entre "desconstrução do gênero" e "transumanismo". Nesse cenário da paródia profana, que tinha como mote a "diversidade" e a "representatividade", incluiu-se inclusive uma criança, para o horror de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Depois de exibir uma "overdose" de diversidade pós-gênero, o fato de ser uma paródia da Santa Ceia é confirmada pelo fato de que a cena culmina em um "banquete". Nesse banquete, uma estranha paródia de Baco é trazida seminua em uma bandeja - uma referência ao canibalismo ritual e, nesse sentido, à conotação da ingestão do corpo de Cristo na Eucaristia.

O fato do Baco, porém, parecer castrado, bem como o próprio cenário e contexto geral, mostra que esse Baco é aquela perversão de Dioniso engendrada pelos sacerdotes de Cibele - é o Dioniso visto a partir das "profundezas", aquele que no lugar da transcendência imanente é apenas imanência, submersão do "zangão" no colo da "Deusa-Mãe" das monstruosidades titânicas.

Considerando que essa cena foi disposta em uma ponte sob a qual as delegações tinham que passar em seus barcos representou, intencionalmente, um gesto de humilhação para as delegações pertencentes a povo que ainda estão ligados às suas Tradições. Passar sob a ponte da paródia da Santa Ceia era como uma demonstração do triunfo desses elementos demoníacos sobre os povos do mundo.

Nada mais precisa ser dito sobre essa abertura das Olimpíadas de Paris. Foi, claramente, a pior abertura olímpica da história, tanto de uma perspectiva técnica e estética quanto de uma perspectiva simbólica e espiritual.

A comparação com as aberturas mais recentes, como a de Pequim, Rio ou Atenas é suficientemente chocante e deixa absolutamente claro quão profundo é o buraco no qual a civilização ocidental está afundando e pretende afundar o resto da humanidade.

Mas se isso ficou evidente dessa maneira, então devemos saudar essa abertura. Sempre que o inimigo se exibe de forma tão evidente e inequívoca o nosso trabalho de convencimento é facilitado.

As distinções entre "nós" e "eles" tornam-se naturais e automáticas, e resta apenas que cada um se alinhe com o próprio bando para travar a necessária guerra cultural.

Ao meu ver, a reação a essa abertura é tão determinante politicamente quanto a posição em relação a Ucrânia e em relação à Palestina.

Aqueles que sentiram nojo dessa abertura são nossos amigos, aqueles que ficaram encantados com ela são nossos inimigos.
O esquerdista brasileiro, animal contraditório e manipulado que é, agora tem que conciliar elogios efusivos à abertura das Olimpíadas com críticas ao COI por permitir Israel nos eventos.

Nós, multipolaristas, somos os únicos consistentes: odiamos a abertura das Olimpíadas e achamos um ultraje a presença de Israel nos Jogos.

E não são coisas desconexas. A decisão sobre a configuração da abertura vem das mesmas pessoas dementes que estão a serviço do sionismo e abriram as Olimpíadas para o Estado racista e genocida de Israel.

E a conexão vai ainda mais fundo para quem sabe enxergar longe. A perversão da Santa Ceia e o situar Israel como país privilegiado ao qual nenhuma regra é aplicável são elementos de uma mesma moldura mental bastante consistente.
Agora, a estratégia dos liberais para legitimar o ritual de Emmanuel Macron e Thomas Jolly é afirmar que "não há problema algum" com a paródia satânica da Santa Ceia porque Leonardo Da Vinci teria sido "homossexual".

Isso é, obviamente, uma invencionice. Nenhum biógrafo contemporâneo ou mesmo das décadas imediatamente subsequentes à sua morte menciona qualquer coisa do tipo.

A "homossexualidade" de Da Vinci aparece apenas em Sigmund Freud, no início do século XX, em um texto no qual Freud pretende "analisar" relatos de sonhos que Da Vinci teria registrado - encontrando neles referências homossexuais em supostos "símbolos fálicos". A conclusão de Freud é que Da Vinci teria tido "tendências homossexuais", mas sido um homem casto, provavelmente virgem, que sublimava a sua sexualidade na arte.

Freud, depois, foi informado de que as análises dele estavam baseadas em registros traduzidos errados. O fundamento de Freud seria o simbolismo do abutre, mas não havia nenhum abutre no sonho interpretado por Freud, e sim um milhafre. Freud expressou seu desapontamento ao descobrir que o texto dele (que ele considerava muito bem escrito) apoiou-se em erros de tradução, e não fez mais referências a ele.

Não obstante, boa parte da "lenda" repetida pela literatura e, inclusive, por biógrafos de Da Vinci no século XX baseia-se na narrativa de Sigmund Freud, e isso apesar do próprio Freud ter se distanciado de seu texto. Vai nesse sentido, por exemplo, a famosa biografia escrita por Walter Isaacson, a qual faz várias alegações sem provas em relação à sexualidade de Da Vinci.

De fato, tem sido uma tendência das biografias escritas no século XX tentar "revisar" a sexualidade de personagens históricos do passado, especialmente se forem personagens importantes. Os vegetarianos fazem usualmente o mesmo - e o próprio Da Vinci tem sido apontado como "vegetariano", quando nunca o foi.

Além da interpretação equivocada feita por Freud, a única outra evidência da qual se dispõe é que uma vez um anônimo deixou um bilhete junto às autoridades com a acusação de que Da Vinci (ainda jovem) e outros 4 amigos seus teriam praticado sodomia com um suposto prostituto. A acusação não foi levada adianta porque ela não trazia qualquer evidência, e o acusador nem mesmo assinou o bilhete, e não podia, portanto, ser chamado para depor.

Como "sodomia" era uma acusação grave em Florença na época - em alguns casos podendo acarretar a morte - o mais provável é que tenha se tratado de uma denunciação caluniosa típica.

Não faltam, aliás, biógrafos que, no sentido contrário, afirmam que Da Vinci teria tido um caso Cecilia Gallerani, a amante de Ludovico Sforza, por causa de certos bilhetes que exibem uma familiaridade pouco característica de uma mera relação social cortês.

Não obstante, a maioria dos biógrafos, especialmente aqueles anteriores à moda de "revisionismo sexual" dos biógrafos e historiadores do século XX, aponta que Da Vinci muito provavelmente foi um celibatário convicto que teria morrido virgem, e cuja existência era absolutamente absorvida pela arte e pela criação em geral.

Da Vinci, de fato, teria pelo menos duas vezes comentado sobre considerar relações sexuais como sendo desperdício de tempo, bem como as funções sexuais em gerais como sendo animalescas; perspectivas que se prestam melhor a uma interpretação de um Da Vinci indiferente pela atração sexual.
Na Venezuela: Um Referendo sobre se a América Ibérica cairá perante a nova Doutrina Monroe ou não

Amanhã veremos eleições na Venezuela para ver se Nicolás Maduro permanece no poder ou não. O principal candidato da oposição é Edmundo González, ex-embaixador e atual líder da oposição.

A Venezuela, de fato, nunca se recuperou suficientemente do colapso dos preços internacionais do petróleo há 11 anos, os quais foram reforçados pelas sanções ilegais impostas pelos EUA 5-6 anos depois e pelas constantes tentativas de desestabilização, fomento de guerra civil e magnicídio, que contaram até com invasão do país por mercenários pagos pelos EUA.

Não obstante, os últimos 3 anos viram uma certa estabilização sociopolítica e até mesmo uma boa taxa de crescimento econômico, com uma queda brusca na taxa de inflação aos patamares de 2014-2015.

Nos últimos anos, Maduro tem buscado adaptar o modelo chinês, com "zonas econômicas especiais" e buscando uma coordenação entre Estado e iniciativa privada. Tem havido certo grau de reindustrialização e o reforço das relações econômicas com a Rússia e a China tem sido benéfico para reativar a sua indústria petrolífera.

Não por acaso desde 2022 temos visto uma movimentação de retorno dos emigrantes venezuelanos ao seu país.

Ainda assim, o que é mais importante sobre a Venezuela e seus desafios políticos hoje é que foi o país que, mais do que qualquer outro no continente, entendeu a importância da transição global multipolar e reagiu à altura.

Maduro entende o verdadeiro sentido da multipolaridade e, apesar das fragilidades da Venezuela, há anos sob cerco dos seus inimigos, tem se movimentado geopoliticamente para contrapor o reforço da projeção de influência dos EUA no continente, o qual aponta para uma retomada da Doutrina Monroe.

Como sempre temos dito, as derrotas e recuos dos EUA em outros continentes têm levado os EUA a buscar reforçar o seu controle sobre a América Ibérica, reduzindo a tolerância estadunidense em relação a governos dissonantes na região. O objetivo é se aproveitar do potencial ibero-americano para, além de sepultar qualquer pretensão de que a região possa se erguer como polo autônomo, compensar as suas perdas e se manter na luta para tentar preservar a ordem unipolar.

É por isso que, nos últimos anos, temos visto um aumento na frequência de golpes e tentativas de golpes, bem como o surgimento de presidentes ongueiros financiados pelos EUA.

Maduro é o principal líder ibero-americano que tem tentado agir contra o crescimento dessas forças em nosso continente, inclusive tentando combater o fortalecimento do wokismo e do onguismo internacional em seu país, tentando também articular um apoio russo-chinês pra enfrentar os tentáculos do atlantismo.

É o futuro dessa luta que está, portanto, em jogo na Venezuela nas eleições de amanhã.

Muita gente está apostando na vitória de González por causa das pesquisas de opinião que a mídia brasileira divulga. O problema é que os institutos venezuelanos são extremamente polarizados. A maioria está de posse da oposição, como essas pesquisas divulgadas no Brasil que dão mais de 70% dos votos (!) para a oposição.

Os institutos de maior confiabilidade, porém, estão apontando que o resultado provavelmente será apertado em favor de Maduro. De qualquer maneira, amanhã teremos um melhor vislumbre de qual será o futuro do nosso continente.

Escravidão sob o satanismo woke dos piratas turbocapitalistas do Ocidente, ou a possibilidade de construirmos um lugar próprio para o nosso continente, inclusive para o Brasil (que, algum dia, realmente despertará), na ordem multipolar.
Israel e a mídia sionista no Ocidente estão vertendo desde ontem as suas lágrimas de crocodilo por causa da morte de 12 civis ontem nas Colinas de Golã.

Acusam o Hezbollah de responsabilidade por essas mortes de "civis israelenses", mas nada na narrativa israelense faz sentido.

Em primeiro lugar, as mortes ocorreram na aldeia de Majdal Shams, que é uma aldeia druza que fica nas Colinas de Golã.

Mas as Colinas de Golã não são "território israelense", são território sírio ocupado ilegalmente por Israel desde os anos 60. Excetuando pelos colonos israelenses implantados ali, a população local, especialmente os druzos, não são israelenses.

Os druzos de Majdal Shams não têm nem mesmo cidadania israelense, seus passaportes ainda são passaportes sírios da época anterior à ocupação do território. Nesse sentido, os civis mortos são cidadãos sírios.

As cenas do funeral dos civis mortos, aliás, confirmam que não há qualquer amor dos druzos de Golã pelos israelenses, já que os moradores de Majdal Shams expulsaram autoridades israelenses que foram ao local para tentar politizar os cadáveres dos jovens mortos, e ainda culparam Israel pela tragédia.

Para piorar, tudo indica que a causa da morte foi um míssil do Iron Dome interceptando um ataque do Hezbollah. A trajetória e vídeos apontam para isso.

Ademais, basta raciocinar, mesmo que assumamos que o Hezbollah não teria problema algum em atacar civis (o que não é verdade), eles obviamente não atacariam civis sírios de uma minoria que, inclusive, apoia Assad.

Agora Israel usa cadáveres de civis de um povo que é considerado inimigo e racialmente inferior para agitar para uma escalada do conflito contra o Líbano, o que é típico da psicopatia israelense, bem como do seu vício em mentiras como fundamento da política.
Media is too big
VIEW IN TELEGRAM
Estive na última semana na IRIBTV 3 do Irã para comentar um pouco sobre a participação de Israel nas Olimpíadas de Paris.
Da Apropriação de Dioniso pelo Wokismo

A saída encontrada pela militância progressista ocidental para defender os rituais organizados por Macron e Jolly para a abertura das Olimpíadas, agora, é dizer que os eventos nada tinham a ver com a Última Ceia, porque a criatura azul que aparece na mesa é "Baco".

E "Baco" é um deus grego! E as Olimpíadas são gregas! Tudo resolvido!

Por algum motivo ninguém deveria se incomodar com a profanação de uma miríade de símbolos e princípios religiosos e culturais, tampouco com a presença de uma criança em um evento que contou com uma pessoa com a genitália de fora - a qual inclusive estava colada na criança - basicamente porque alguém vomitou alguma "explicação" vagabunda qualquer pra dizer que o que aconteceu não tem nada a ver com o Cristianismo.

Os "pagãos" e todos aqueles que estudaram as religiões europeias antigas discordam.

Em primeiro lugar, uma diferenciação que precisa ser feita é que toda religião tem os seus deturpadores e corruptores. Toda religião tem as suas "heresias", "seitas" e "profanações". E isso vale tanto para as religiões europeias antigas quanto para o Cristianismo ou o Islã.

Cada deus possuía inúmeros aspectos. Cada aspecto de um deus tinha as suas próprias formas de culto, não raro os seus festivais específicos. E isso, ademais, podia variar radicalmente também conforme a geografia. O mesmo deus cultuado, por exemplo, em Atenas e Esparta poderia aparecer com características muito diferentes, dependendo de uma série de circunstâncias históricas, culturais ou mesmo espirituais.

Nesse sentido, cada deus era como se fosse muitos deuses, e nessa multiplicidade nem tudo era permitido ou autorizado. Os gregos e romanos tinham autoridades religiões, tinham noções de legitimidade espiritual, e o Estado (que era, também, religioso) regulamentava os cultos - não raro banindo e perseguindo os cultos considerados ilegítimos, corruptores ou ofensivos aos deuses.

Assim, é necessário olhar com atenção para essa noção aí de que Dioniso seria o deus das orgias poliamoristas e pós-gênero envolvendo crianças, para ver se isso tem fundamento na religião grega e na religião romana em suas manifestações tradicionais.

Quanto ao Dioniso/Baco, divindade à qual alguns atribuem uma origem trácia e outros uma origem paleo-helênica (a qual, inclusive, o aproxima de Shiva), ele era uma divindade agrícola ligada à fertilidade e aos frutos da terra, especialmente do cultivo de uvas e da produção do vinho. Por isso mesmo, ele estava associado ao êxtase espiritual e à iluminação extática.

Dioniso, não obstante, é um legislador dos costumes e foi ele quem ensinou os gregos a misturar o vinho com a água e exigia moderação em tudo (e, inclusive, na moderação - como exceção). Dioniso "pune" aqueles que desrespeitam os limites e abraçam o excesso desmesurado.

Dessa forma, se estivermos falando da dimensão social dos festivais de Dioniso, ele é o deus que demanda que seus cultistas bebam vinho (misturado com água) até ficarem alegres... e de vez em quando pode exagerar. Mas mesmo essa dimensão social é apenas um pequeno aspecto do culto.

Na Grécia, entre os festivais mais importantes a Dioniso tem-se a Dionísia, a Antestéria, a Haloa, a Ascólia e a Lenaia. Nenhum desses festivais envolvia "orgias" ou tinha qualquer sentido de "superação do gênero" ou sei lá o que.

Esses festivais envolviam, com as especificidades de cada um, procissões religiosas, apresentações teatrais, símbolos fálicos, abundância de alimentos e o consumo moderado de vinho. A Dionisía incluía uma folia de rua, a Antestéria, que era um festival dos mortos, envolvia libações aos mortos. Alguns festivais dionisíacos (ou os momentos de alguns festivais) eram exclusivos para as mulheres - e não tinha margem pra um homem dizer que era mulher e participar, a conceituação que os gregos tinham dos sexos era rígida.
Já nos mistérios, como os mistérios dionisíacos, nos eleusinos e no orfismo, Dioniso é vinculado ao ciclo de nascimento-morte-ressurreição, tanto em um sentido agrícola como em um sentido mais elevado. No orfismo, por exemplo, a morte de Dioniso pelas mãos dos Titãs, que comem a carne do deus, leva à incineração dos Titãs por um raio de Zeus. Das cinzas nasce o homem - o qual, portanto, teria tanto uma natureza material, titânica, quanto uma fagulha divina, aquela parte do deus Dioniso ingerida pelos Titãs.

Dioniso, nesse sentido, é o deus que liberta o homem em relação aos aspectos titânicos (materiais) que oprimem a sua fagulha divina. Os orfistas, aliás, eram ascetas. Nem em moderação ingeriam vinho, e a sua iluminação era alcançada por outras técnicas.

Nos mistérios dionisíacos, porém, a intoxicação moderada desempenha um papel, a qual leva a um transe junto aos batuques, flautas e danças dos cultos. No frenesi da dança, entendia-se que o iniciado era preenchido pela energia divina do Dioniso e se tornava "um" com o deus.

De um modo geral, Dioniso era um deus popular em todos os sentidos, porque ele representava para os plebeus a possibilidade cíclica de momentos de descontração, de abundância e mesmo de violação de certas normas sociais de separação entre estamentos e sexos.

Novamente, aqui em momento algum encontramos fundamento para as insinuações "wokes" que querem justificar o "grotesco" com apelos superficiais (feitos por ateus) a Dioniso.

E em Roma?

Os romanos já tinham o seu "deus do vinho" antes da importação de Dioniso, era Liber Pater, da Tríade Aventina, filho de Ceres e irmão de Libera. Essas divindades eram consideradas protetoras dos plebeus, de suas liberdades políticas e de suas prerrogativas.

O seu festival, a Liberalia, era um festival da fertilidade que envolvia, também, a iniciação dos adolescentes em homens adultos. Apenas mulheres podiam ser sacerdotisas de Liber, mas essas sacerdotisas eram mulheres idosas que distribuíam bolos de mel durante a Liberalia. Em geral, como Liber era um deus das sementes e da potência das sementes, isso estava associado tanto à agricultura quanto à semente masculina, de modo que suas procissões envolviam réplicas de falos.

O Baco romano, porém, foi uma introdução estranha de Dioniso em Roma, feita na mesma época da introdução do culto de Magna Mater (Cibele) em Roma. Ele teria sido introduzido por algum sacerdote grego desconhecido na zona rural da Etrúria, onde se realizavam bacanálias em homenagem ao deus.

Nessas bacanálias, que diferentemente dos cultos tradicionais a Dioniso na Grécia e a Liber eram eventos privados, ingeria-se vinho em excesso e se realizavam orgias.

Essa situação durou alguns anos até que as autoridades político-religiosas romanas descobriram essa seita, prenderam milhares de sacerdotes e adeptos, os executaram como profanadores da Tradição, e promulgaram uma lei para regulamentar o culto de Baco em Roma.

A partir de então, o culto de Baco passou a seguir as diretrizes romanas tradicionais, com homens banidos do sacerdócio e qualquer festividade precisando de autorização do Senado.

Naturalmente, orgias em homenagem a Baco possivelmente continuaram acontecendo em alguns lugares, mas onde fossem descobertas eram punidas com a morte.

Eventualmente, essas seitas báquicas ilegais se sincretizaram com o culto subterrâneo de Magna Mater, os quais se ressentiam da romanização de Cibele, e que envolvia o elemento da castração ritual. Dioniso, aí, às vezes ocupa o lugar de Átis como filho-amante de Cibele, é o deus visto a partir do mundo dos titãs, a partir das profundezas.

A conclusão aqui é que quando os liberal-progressistas apelam à "religião dos gregos e romanos" e a Dioniso, eles estão tão somente falsificando as religiões antigas, e apelando às práticas de minúsculas seitas consideradas criminosas e rechaçadas como ímpias pelas legítimas autoridades religiosas do mundo greco-romano.

E essas seitas eram perseguidas porque se considerava que suas práticas violavam os elementos fundamentais da espiritualidade tradicional.
Acrescento que, filosoficamente, Dioniso e o dionisíaco nada têm a ver com a concepção liberal de liberdade (ou seja, fazer o que dá na telha), com orgias, com as pautas da ideologia de gênero ou do poliamorismo, ou qualquer coisa do tipo.

Dioniso é o deus da transcendência imanente, da encarnação do incriado, do presenciamento, do fenômeno e do manifesto, do sol que brilha à noite, da linha do horizonte separando o céu e a terra. Aristóteles, por exemplo, é um filósofo do dionisíaco na medida em que é um filósofo dos entes manifestos e das leis naturais que os regem (enquanto, por sua vez, Platão é um filósofo do apolíneo). Mesmo a metafísica aristotélica é, nesse sentido, dionisíaca.

Cristo, da mesma maneira, é uma figura dionisíaca: Deus-Homem, um imortal que é morto e triunfa sobre a morte, a historicização da eternidade, basta recordarmos também o simbolismo da Eucaristia, a própria descida ao Hades, os elementos agônicos da Paixão de Cristo que culminam com o triunfo do Espírito (o qual, ademais, espiritualizará a carne no Fim dos Tempos). Tudo isso é dionisíaco, porque o dionisíaco, noologicamente, é simplesmente uma "modalidade" do intelecto que se expressa na realidade.

Não se "resolve", portanto, a questão do ritual da abertura das Olimpíadas de Paris alegando que trata-se, ali, de Baco, quando os próprios Cristo e Dioniso possuem uma certa associação simbólica.

Quando se toma a Santa Ceia, com os apóstolos substituídos por personagens semelhantes aos "galli", os sacerdotes eunucos de Cibele, e se apresenta como banquete desses sacerdotes-apóstolos um Baco visto a partir do subterrâneo como patrono das orgias, do poliamorismo, do triunfo da carne e da matéria sobre o Espírito, das liberdades negativas, etc., fica muito mais claro o tipo de paródia e inversão que se tenta fazer ali.
Maduro Vence!

Sem surpreender qualquer pessoa que acompanhava as notícias vindas da Venezuela, Nicolás Maduro venceu as eleições venezuelanas com 51.2% dos votos, e o seu adversário Edmundo González ficando com 44%.

Não havia aí nenhuma surpresa porque, como já havíamos apontado antes, todos os indicadores socioeconômicos da Venezuela têm melhorado nos últimos anos, com crescimento do PIB, queda na inflação, melhora no IDH, reindustrialização, bem como bons projetos de infraestrutura, de zonas econômicas especiais com incentivos fiscais, etc.

Não obstante, tampouco nos surpreendemos com o questionamento das eleições venezuelanas e com as notícias falsas que foram divulgadas ontem durante as apurações.

O questionamento já havia sido preparado meses antes com institutos de pesquisa de propriedade da oposição divulgando pesquisas delirantes em que González recebia 70-80% dos votos, e Maduro 15-20%. De fato, a maioria dos institutos era de pouca confiança, e isso inclui os institutos de puxa-sacos do governo que apontavam números invertidos em favor do governo.

Mas os números que a maioria dos institutos indicavam, dando larga vantagem para González, serviam para já construir uma "atmosfera" de que a derrota de Maduro estava garantida e que qualquer outro resultado só seria possível por fraude. Assim, a oposição já estava preparada para impugnar os resultados das eleições antes mesmo de iniciada a contagem. É o modus operandi clássico.

Assim, enquanto as eleições iam terminando, bandidos ligados à oposição começaram a invadir locais de votação para dificultar o término da votação e para impedir remessas dos resultados para a CNE para a contagem oficial.

Meia dúzia de anúncios de que em tal ou qual escola González havia vencido, em um país com 15 mil centros de votação, serviram para insuflar esse clima de "já ganhou" que precisa ser criado para legitimar a alegação de fraude.

O envio da Guarda Nacional para liberar centros de votação ocupados por criminosos foi pintado como "envio de milícias bolivarianas para assassinar a oposição".

Ainda assim, apesar dos esforços da oposição de tumultuar os procedimentos, a maior parte da movimentação nas ruas era de apoiadores de Maduro, de modo que pouca margem há para expressar surpresa com os resultados anunciados.

Sem surpreender ninguém, a oposição decidiu não reconhecer os resultados, em um teatro reminiscente de todas as eleições anteriores. Maria Corina Machado, que é ligada à Open Society, Davos e Conselho Atlântico, já se adiantou até ao candidato da oposição à presidência para anunciar a vitória do seu lado.

Como eu já apontei antes, essa mulher participou no roubo do ouro venezuelano que estava em Londres, incitou ao confisco das contas de estatais venezuelanas no exterior, cometeu vários outros crimes contra o próprio país, incitou à guerra civil enquanto morava no exterior e por aí vai.

Liberais de esquerda e direita, como Boric e Milei, já indicaram que não reconhecerão os resultados. Rússia, China e alguns outros países já parabenizaram Maduro por sua vitória.

Infelizmente, imaginamos que os líderes da oposição tentarão, uma vez mais, usar parte do povo venezuelano como carne de canhão contra o governo, incitando à violência enquanto se escondem ou até mesmo fogem do país. Nada disso é novo e tem acontecido há décadas na Venezuela.

Agora cabe a Maduro ser duro com os inimigos e estabilizar o país por todos os meios necessários, para que possa pôr em prática os planos de desenvolvimento já preparados e que contarão com o apoio das potências eurasiáticas. Isso, ademais, é necessário para que se possa reduzir a influência do Ocidente no nosso continente, que tem lançado seus tentáculos na América Ibérica com o fim de impedir a construção de um polo civilizacional autônomo.

Esse é o momento do Estado venezuelano se armar até os dentes e, se necessário, até mesmo contratar os serviços do Grupo Wagner.
Lamentável ver tanta gente aqui já supostamente vacinada em relação às mentiras midiáticas sobre a Rússia caindo em todas as mentiras midiáticas sobre a Venezuela - quando as mentiras se originam nas mesmas fontes.

Ficaram ontem compartilhando desinformação de "já ganhou" do González, de "não, veja, nessa escolinha em Xique-Xique, Venezuela, o González ganhou, isso quer dizer que ele será o novo presidente", de que o Maduro já havia saído do país, de que havia uma negociação para ele reconhecer as eleições, de que milícias armadas estavam assassinando manifestantes, etc.

Em geral, isso acontece por causa da falta de memória histórica desse pessoal, que sabe zero coisas sobre a Venezuela pré-Chávez - agora inventaram até a "Venezuela paraíso" - não sabem do Caracazo, da fome, dos momentos de hiperinflação, das crises cíclicas, não, era tudo maravilhoso até que chegou o Chávez, do nada, e destruiu tudo.

E em um segundo plano, é óbvio que existe aí um elemento xenofóbico que vê com um certo nojo essas lideranças políticas tipicamente "caudilhescas" e "populistas" de países mais "caribenhos" como a Venezuela, e nesses casos específicos preferiria que eles fossem governados por um João Dória ou um Eduardo Leite.

E tem também o elemento da fragmentação intelectual. O pessoal dessa tal "bolha" em geral não dispõe de nenhuma cosmovisão consistente. Vão palpitando sobre cada assunto conforme dá na telha, sem entender como todos os temas e pautas estão integrados em uma totalidade.

E finalmente, claro, compõe isso tudo o fato de que o pessoal segue canais de Telegram que são desinformadores alinhados ao liberalismo global, e que foram as fontes que esse pessoal usou para divulgar narrativas malucas anti-Maduro.

Falta ideologia.