♰ MEDITAÇÕES CATÓLICAS TRADICIONAIS DIÁRIAS ♰
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Peço-Vos que tomeis plena posse de mim, de minha alma, de meu corpo, das minhas faculdades, dos meus sentidos, de minha vontade e da minha liberdade: _Tuus sum ego, salvum me fac (Sl 118, 94) - "Eu sou vosso; salvai-me"._

Vós que sois o único bem, o único amável, sede também o meu único amor. Dai-me fervor em Vos amar. Já Vos ofendi muito; portanto, não me posso contentar com amar-Vos simplesmente; quero amar-Vos muito para compensar as injúrias que Vos fiz. De Vós espero esta graça porque sois todo-poderoso; espero-a também, ó Maria, das vossas orações, que são todo-poderosas para com Deus.

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*Quinta-feira. A Santa Missa dá a Deus honra infinita*

_Laudate eum secundum multitudinem magnitudinis eius_ - "Louvai (a Deus) segundo a multidão da sua grandeza" (Sl 150, 2)

Sumário. _Todas as honras que foram tributadas a Deus, e Lhe serão ainda tributadas por todas as criaturas, sem excetuar a divina Mãe, nunca poderão igualar a ,honra que Lhe é dado por uma única Missa, porquanto nesta é sacrificada a Deus uma vítima de valor infinito, que Lhe dá uma honra infinita. Que honra, pois, para nós, que se nos permite assistirmos cada dia e até mais de uma vez a este divino sacrifício! Ouçamos quantas Missas possamos, particularmente neste tempo do carnaval, para desagravar o Senhor dos ultrajes que recebe._

I. Nunca um sacerdote celebrará a Santa Missa com a necessária devoção, nem nunca o cristão lhe assistirá com o devido respeito, se não tiverem de tamanho sacrifício a estimação que merece. "É certo", diz o Concílio de Trento, _"que o homem não faz ação mais sublime e mais santa do que a celebração da Missa"_ (Sess. 22, Decr. de obser. in celebr. Missae.); mais, Deus mesmo não pode fazer que se cometa no mundo ação mais sublime do que esta.

A Missa não é somente uma recordação do sacrifício da Cruz, senão o mesmo sacrifício, porque em ambos o oferente é o mesmo, a mesma é a vítima, a saber: o Verbo encarnado. A diferença está unicamente no modo de se oferecer, porquanto o sacrifício da Cruz foi feito com derramamento de sangue, e o sacrifício da Missa é incruento. No primeiro Jesus Cristo morreu verdadeiramente, no segundo morre de morte mística.

Por isso todos os sacrifícios antigos, apesar da grande glória que deram a Deus, não foram senão uma sombra e figura de nosso sacrifício do altar. Todas as honras que jamais têm dado e darão a Deus os anjos com os seus louvores, os homens com as suas boas obras, penitências e martírios, e mesmo a divina Mãe com a prática das mais sublimes virtudes, nunca chegaram nem poderão chegar a glorificar o Senhor tanto como uma só Missa.

A razão é que todas as horas das criaturas são honras finitas, mas a glória que Deus recebe no sacrifício do altar, no qual se Lhe oferece uma vítima de valor infinito, é uma glória igualmente infinita. Numa palavra, a Missa é uma ação pela qual se tributa a Deus a maior honra que Lhe pode ser tributada. Pela Missa cumprimos o nosso dever primário, sublime e essencial, o de louvarmos a Deus segundo a sua grandeza: _Laudate eum secundum multitudinem magnitudinis eius._

II. Se tu, que fazes a presente meditação, tens a grande dita de ser padre, emprega toda a diligência para celebrar este divino sacrifício com a maior pureza e devoção possíveis. Lembra-te de que a maldição fulminada contra aqueles que exercem as funções sagradas negligentemente, diz exatamente respeito aos sacerdotes que celebram a Missa de modo irreverente: _Maledictus homo, qui facit opus Domini fraudulenter (Jr 48, 10) - "Maldito o que faz a obra de Deus com negligência"._

Se não és padre, esforça-te por ouvir ao menos cada dia devotamente a Missa, mesmo à custa de algum incômodo; especialmente nestes dias de carnaval, para desagravar Jesus dos ultrajes que Lhe são feitos. Santa Margarida de Cortona desejava ter para amar e louvar a Deus tantos corações e tantas línguas, quantas são as estrelas dos céus, as folhas das árvores, as gotas de água do mar. Mas o Senhor dignou-se dizer-lhe: _"Consola-te; se ouvires devotamente uma única Missa, tributar-me-ás toda a glória que possas desejar e infinitamente mais"._

Meu Deus, adoro a vossa majestade e grandeza infinita; comprazo-me com as vossas infinitas perfeições e quisera honrar-Vos, tanto quanto mereceis. Que honra Vos posso tributar eu, miserável pecador digno de mil infernos? † _"Eterno Pai, ofereço-Vos o sacrifício que o vosso dileto Filho fez de si mesmo sobre a cruz, e agora renova sobre o altar.
Eu Vo-lo ofereço em nome de todas as criaturas em união com as Missas que já foram celebradas e ainda serão celebradas em todo o mundo, para Vos adorar e louvar como mereceis; para agradecer os vossos inúmeros benefícios; para aplacar a vossa ira, excitada por tantos pecados nossos; e dar-Vos uma satisfação digna, para Vos suplicar por mim, pelo mundo universo e pelas almas do purgatório"²⁸. Ó Maria, minha Mãe, em vós repousou o Deus que se sacrifica sobre os nossos altares, ajudai-me a ouvir sempre (e celebrar) a Missa com a devida devoção.

_28) Indulgência de 3 anos, uma vez por dia_

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*Sexta-feira. Coração de Jesus, aflito pelo pecado de escândalo*

_Videte ne contemnatis unum ex his pusillis_ - "Vede, que não desprezeis um só destes pequeninos" (Mt 18, 10)

Sumário. _O Filho de Deus baixou do céu à terra por amor das almas, levou durante trinta e três anos uma vida de privações, e de trabalhos, e afinal chegou a derramar por elas o seu preciosíssimo sangue. Julgai, por estas razões, quão amargo é o desgosto que os escandalosos causam a Jesus Cristo; por Lhe roubarem e mesmo matarem tantas filhas tão diletas. Para não amargurarmos mais esse Coração amabilíssimo, guardemo-nos de dar mau exemplo ao nosso próximo, ainda que seja em coisas leves._

I. Uma das coisas que mais afligiram o Coração de Jesus, durante a sua vida terrestre, e que haviam de afligi-Lo ainda no céu, se ali houvesse tristeza, é o pecado de escândalo. Para compreender isso, devemos considerar quão cara é a Deus cada alma de nossos próximos. Criou-as _Ele à sua imagem e semelhança_ (Gn 1, 26), e amando-as desde a eternidade, criou-as para que fossem rainhas no paraíso, onde há de torná-las participantes de sua própria felicidade e dar-se-lhes a si mesmo em galardão: _Ego ero merces tua magna nimis (Gn 15, 1) - "Eu serei o teu galardão infinitamente grande"._

Depois, o que não tem feito, o que não tem padecido o Verbo encarnado por amor dessas almas, para remi-las da escravidão do demônio, na qual caíram pelo pecado? Chegou a nada menos do que a dar por elas o seu sangue e a sua vida. Se, em vez de uma só morte, seu Pai lhe tivera exigido mil; se, em vez de ficar três horas na cruz, tivera de ficar nela até o dia do juízo; se afinal tivera de sofrer para salvação de cada um, o que padeceu para salvação de todos os homens juntos, Jesus Cristo não teria hesitado em fazer tanto.

Tão grande é o amor que lhe fazem perder tantas almas. Julgai por aí quão amargo desgosto causam ao Coração de Jesus os escandalosos, que Lhe fazem perder tantas almas, roubam-Lhe e assassinam tantas filhas tão diletas. Diz São Bernardo, que a perseguição que o Senhor sofre da parte daqueles pérfidos algozes é mais cruel do que a que sofreu da parte dos que o crucificaram.

Tendo os filhos de Jacó vendido a José, apresentaram ao pai a túnica deste tingida no sangue de um cabrito, dizendo-lhe: _Vide utrum tunica filii tui sit (Gn 37, 32) - “Vê se é ou não a túnica do teu filho"._

Do mesmo modo, nós podemos figurar que, quando uma pessoa peca, induzida ao pecado por um escandaloso, os demônios apresentam a Deus o vestido daquela pessoa tingida do sangue de Jesus Cristo, isto é, a graça perdida por aquela alma escandalizada. Se Deus pudesse chorar, choraria então mais amargamente do que Jacó, dizendo: _Fera pessima devoravit eum - "Uma fera péssima a devorou"._

II. A fim de não afligirmos mais o Coração de Jesus, guardemo-nos, especialmente nestes dias, de darmos ao próximo qualquer escândalo ou mau exemplo, não somente em coisas graves, senão também nas leves. Abstenhamo-nos sobretudo e sempre de toda palavra que possa ofender a bela virtude, lembrando-nos que uma palavra indecente, muito embora dita de gracejo, pode ser causa de mil pecados. Se no passado tivemos a desgraça de dar, de qualquer modo, ao próximo ocasião de pecado, saibamos que o Coração aflito de Jesus exige de nós uma rigorosa satisfação, reparando ao menos pelo bom exemplo o mal que fizemos.

Meu amabilíssimo Jesus, eu também sou um daqueles desgraçados cujo mau exemplo encheu de amargura o vosso divino Coração. Ah, Senhor! Como pudestes sofrer tanto por mim, prevendo as injúrias que Vos havia de fazer? Mas já que me suportastes até este momento, e quereis a minha salvação, dai-me uma grande dor de meus pecados, uma dor que iguale à minha ingratidão.

Senhor, odeio e detesto sumamente os desgostos que Vos causei. Se no passado desprezei a vossa graça, agora estimo-a mais do que todos os reinos da terra.
Amo-Vos, † _Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, e de todo o meu coração_. Não quero mais viver senão para Vos amar e fazer que os outros também Vos amem. Vós mesmo abrasai-me cada vez mais em vosso amor, lembrando-me sempre, quanto fizestes e padecestes por mim. A mesma graça, peço a vós, ó Maria! Suplico-vos que me alcanceis, pela dor que o vosso divino Filho sentiu e que vós mesma sentistes pela previsão dos escândalos do mundo.

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_SEMANA DA SEXAGÉSIMA_
*Domingo. A parábola do semeador e a palavra divina*

_Exit qui seminat seminare semen suum_ - "Saiu o que semeia a semear a sua semente" (Lc 8,5)

Sumário. _Irmão meu, o Senhor semeia continuamente em tua alma a boa semente de sua palavra. Se não produzir o seu fruto, examina se porventura há em ti algum dos impedimentos indicados no Evangelho. Examina sobretudo se há em ti apego às riquezas, às dignidades, aos prazeres, ou à outra criatura qualquer; pois que são estes os espinhos que não somente fazem perder o fruto da palavra de Deus, mas afinal muitas vezes impedem que Deus ainda fale à alma._

I. Refere São Lucas que, estando certo dia numerosa multidão de povo reunida ao redor de Jesus, este propôs a parábola do semeador, cuja semente caiu parte junto ao caminho, outra sobre pedregulho, outra entre espinhos, outra finalmente em terra boa. Perguntado depois pelos discípulos, o divino Redentor mesmo deu a seguinte interpretação: "A semente", disse, "é a palavra de Deus. Os que estão à borda do caminho, são aqueles que a ouvem, mas depois vem o diabo e tira a palavra do coração deles, para que não se salvem crendo. Quanto aos que estão sobre pedra, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; mas eles não têm raízes, porque até certo ponto creem, e no tempo da tentação voltam atrás. A semente que caiu entre espinhos, estes são os que a ouviram, porém, indo por diante, ficam sufocados pelos cuidados e pelas riquezas e deleites desta vida, e não dão fruto: _Suffocantur, et non referunt fructum"._

Observa São Gregório que, sendo o Evangelho de hoje interpretado por Jesus mesmo, não precisa de outra explicação; mas é digno de nossa mais atenta consideração. Considera, pois, aos pés de Jesus Cristo, se porventura se ache em ti algum dos três impedimentos notados na parábola que te possa privar do fruto da palavra divina: _Aliud cecidit secus viam - “Parte caiu junto ao caminho"_. Tens porventura o espírito dissipado e qual caminho público aberto a todos os pensamentos?

_Aliud cecidit supra petram - "Outra parte caiu sobre o pedregulho"_. Estará porventura o teu coração endurecido como uma pedra em consequência de algum vício ou tibieza habitual? _Aliud cecidit inter spinas - "Outra parte caiu entre espinhos"_. Examina sobretudo se tens apego às riquezas, às dignidades e aos prazeres terrestres, que são como espinhos, que fazem perder o fruto da palavra de Deus e muitas vezes são a causa de Deus não falar mais às almas, porque vê que suas palavras se perdem.

II. Continuando o Senhor a interpretar a última parte da sua parábola, acrescenta: "A semente que caiu em boa terra, estes são os que, ouvindo a palavra com coração bom e perfeito, a retêm, e dão fruto pela paciência". Nota aqui estas últimas palavras: _Fructum afferunt in patientia - "Eles dão fruto pela paciência"_. Elas significam que não nos devemos deixar enganar pelo demônio, com a pretensão de fazer tudo ao mesmo tempo, porquanto, como avisava São Filipe Néri: "A obra da santificação não é obra de um só dia". Numa palavra, para não nos apartar da parábola, quem quiser colher frutos maduros, deve, como o lavrador, esperar pacientemente o tempo da colheita.

Ó meu amabilíssimo Jesus, estou envergonhado de comparecer à vossa presença, vendo que a semente da vossa palavra, semeada tão frequentemente e abundantemente em meu coração, até agora, por minha culpa produziu tão pouco fruto. Consolo-me, porém, porque sinto que apesar das minhas negligências, ainda continuais a me falar. _Loquere, Domine, quia audit servus tuus (1Sm 3, 9) "Fala, Senhor, porque o seu servo escuta"._

Eis-me aqui, ó Senhor, não quero mais resistir quando me chamais; dizei-me o que desejais; estou pronto a obedecer-Vos: quero deixar tudo para ser todo vosso. É por demais que me obrigastes a amar-Vos! Se porém desejais que Vos seja fiel, transformai o meu coração e fazei que de hoje em diante seja uma terra boa, na qual a vossa divina palavra possa deitar raízes, crescer e dar frutos de vida eterna.
Rogo-Vos também, ó meu Deus, “já que vedes que de nenhuma sorte confio em minhas obras: rogo-Vos que contra todas as adversidades sejamos munidos com a proteção do Doutor das gentes." (Or. Dom. curr. 2). † _Doce Coração de Maria, sede a minha salvação._
*Segunda-feira. O pecador aflige o Coração de Deus*

_Exacerbavit Dominum peccator: secundum multitudinem irae suae non quaeret_ - "O pecador irritou ao Senhor: não se importa da grandeza de sua indignação" (Sl 9, 24)

Sumário. _Não há dissabor maior do que ver-se pago com ingratidão por uma pessoa amada e beneficiada. Daí infere quanto deve estar amargurado o Coração sensibilíssimo de Jesus, que, não obstante os imensos e contínuos benefícios concedidos aos homens, é tão vilmente ultrajado pela maior parte deles, especialmente neste tempo de carnaval. Jesus não pode morrer; mas, se o pudesse, havia de morrer só de tristeza. Procuremos nós ao menos desagravá-Lo um pouco com os nossos obséquios._

I. O pecador injuria a Deus, desonra-O e por isso amargura-O sumamente. Não há dissabor mais sensível do que ver-se pago com ingratidão por uma pessoa amada e beneficiada. A quem ofende o pecador? Injuria um Deus, que o criou e amou a ponto de dar por amor dele o sangue e a vida. Cometendo um pecado mortal, bane esse Deus de seu coração.

Que mágoa não sentirias, se recebesses injúria grave de uma pessoa a quem tivesses feito bem?

É esta a mágoa que causaste a teu Deus, que quis morrer para te salvar. Com razão o Senhor convida o céu e a terra, para de alguma sorte compartilharem com ele a dor que lhe causa a ingratidão dos pecadores: Ouvi, céus, e tu, ó terra, escuta: Criei uns filhos e engrandeci-os; porém, "eles me desprezaram" - _Ipsi autem spreverunt me_ (Is 1, 2). Numa palavra, os pecadores, com o pecado, afligem o coração de Deus: _Exacerba vit Dominum peccator_. Deus não está sujeito à dor, mas, se a pudesse sofrer, um só pecado mortal bastaria para O fazer morrer de tristeza, porque Lhe causaria uma tristeza infinita.

Assim, o pecado, no dizer de São Bernardo, por sua natureza é o destruidor de Deus: _Peccatum, quantum in se est, Deum perimit._

Quando o homem comete um pecado mortal, dá, por assim dizer, veneno a Deus, faz o que está em si, para tirar-lhe a vida. Segundo a expressão de São Paulo, renova de certo modo a crucifixão e as ignomínias de Jesus e calca-O aos pés, pois que despreza tudo o que Jesus Cristo fez e sofreu para tirar o pecado do mundo: _Qui filium Dei conculcaverit_ (Hb 10, 29). Eis por que a vida do Redentor foi tão amargurada e penosa: tinha sempre diante dos olhos os nossos pecados.

II. Se um só pecado basta para afligir o coração de Deus, considera quanto deverá ficar amargurado particularmente no tempo de carnaval, quando se comete um sem-número de pecados. Santa Margarida Alacoque, para consolar um pouco o seu divino Esposo de tantas amarguras, alcançara de Deus que cada ano no carnaval lhe sobreviessem dores acerbíssimas, que soíam durar até a quarta-feira de Cinzas, dia em que parecia reduzida aos extremos. Dando conta desta graça assinalada a seu diretor, a santa exprime-se assim: "Esses dias são para mim um tempo de tamanho sofrimento, que não posso contemplar senão o meu Jesus sofredor, compadecendo-me das aflições de seu sacratíssimo Coração".

Meu irmão, se não tens suficiente ânimo para imitar aquela amantíssima esposa de Jesus, ao menos, já que agora consideraste a malícia do pecado, afasta-te no futuro bem longe dele. E nestes dias de desenfreada libertinagem, não percas de vista as seguintes belas palavras de Santo Agostinho: "Os gentios", diz ele (e o mesmo fazem os maus cristãos), "regozijam-se com gritos de alegria, mas vós alegrai-vos com a palavra de Deus; eles correm aos espetáculos, vós procurai apressadamente as igrejas; eles embriagam-se, mas vós, sede sóbrios e temperantes".

Se porventura em outros tempos cometeste alguma culpa grave e assim afligiste o teu Deus tão amável, dize-Lhe agora com coração contrito e amoroso: † _“Meu amável Jesus, para mostrar-Vos minha gratidão e para reparar as minhas infidelidades, dou-Vos o meu coração e consagro-me inteiramente a Vós, e com Vosso auxílio proponho não pecar mais”³¹_. † Ó doce Coração de Maria, sede a minha salvação.

_31) Indulgência de 100 dias._

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*Terça-feira. O pecado renova a Paixão de Jesus Cristo*

_Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei, et ostentui habentes_ - "Eles outra vez crucificam o Filho de Deus para si próprios e o expõem à ignomínia" (Hb 6, 6)

Sumário. _Quem comete o pecado, contraria todos os desígnios amorosos de Jesus Cristo, inutiliza para si os frutos da Redenção, e, como diz São Paulo, pisa o Filho de Deus aos pés, despreza e profana seu sangue e renova a sua paixão e morte. Portanto, especialmente neste tempo de carnaval o Senhor é cada dia crucificado milhares de vezes. Imagina que são tantos os Calvários quantos são os antros do pecado. Ai, meu pobre Senhor!_

I. Considera a grandíssima injúria que o pecado mortal faz à Paixão de Jesus Cristo. O intuito do Filho de Deus, em fazer-se homem, foi tirar o pecado do mundo; a este fim, como diz Isaías, colimavam todos os seus pensamentos, palavras, obras e sofrimentos: _Et iste omnis fructus, ut auferatur peccatum (Is 27, 9) - "Este é todo o seu fruto, que seja tirado o pecado"_. Pois bem, quem peca, inutiliza para si este grande fruto da Redenção e contraria assim todos os desígnios e intentos amorosos do Redentor. Se o pecado é acompanhado de escândalo, contraria-os também para os outros, fechando, por assim dizer, em despeito de Cristo, para si e para o próximo, as portas do céu e abrindo as do inferno.

Mais, o pecador, como diz São Paulo, pisa aos pés o Filho de Deus, despreza e profana o seu preciosíssimo Sangue, chega até ao excesso de renovar a sua crucifixão e morte: _Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei - "Crucificando outra vez o Filho de Deus para si próprios"_. Isto, na interpretação de Santo Tomás, se verifica de duas maneiras. Primeiro, pecando se faz aquilo pelo que Jesus Cristo foi crucificado, a saber, o pecado. Portanto, se a morte do Senhor não houvera sido suficiente para expiar os pecados todos, fora conveniente, pelo encargo de Redentor, que tomou sobre si, que se deixasse crucificar tantas vezes quantos são os pecados cometidos.

Em segundo lugar, pelo pecado comete-se uma ação mais abominável aos olhos de Jesus e mais dolorosa para seu Coração do que todos os opróbrios e penas padecidas na sua Paixão e por isso de boa vontade quisera tornar a sofrê-las a fim de impedir um só pecado mortal.

É assim que, especialmente neste tempo de carnaval, o Senhor é crucificado pelos pecadores milhares de vezes cada dia. Imagina, pois, que são tantos os Calvários, quantos são os antros do pecado, ou melhor, quantas são as almas pecadoras. Ah, meu pobre Redentor!

II. Na vida de Santa Margarida Alacoque se lê que num dos dias que antes de principiar a Quaresma são consagrados ao prazer, Jesus Cristo se lhe mostrou todo rasgado de feridas e coberto de sangue. Tinha a cruz nos ombros e com voz triste e queixosa disse: "Não haverá ninguém que tenha compaixão de mim e queira compartilhar comigo as dores que sofro por causa dos pecadores, especialmente nestes dias?". Ouvindo isso, a Bem-aventurada lançou-se aos pés de seu divino Esposo e ofereceu-se a sofrer em união com Ele, pelo que o Senhor a carregou de uma cruz pesadíssima.

Imitemos na medida de nossas forças à Santa Margarida, desagravando o Coração de Jesus. Nestes oito dias ouçamos com devoção uma missa, façamos ao menos uma comunhão reparadora, e, não só com o nosso exemplo, mas também com palavras, excitemos os outros a fazerem o mesmo. No correr do dia, digamos muitas vezes: *_† Meu Jesus, misericórdia³²_*. Enquanto os outros só pensam em distrair-se com divertimentos mundanos, procuremos, mais do que de ordinário, fazer companhia a Jesus sacramentado, ou recolhidos em nossa casa aos pés de Jesus Cristo, compadecer-nos dele pelas muitas ofensas que Lhe são feitas.

Tenhamos por certo que estes obséquios são muito agradáveis ao Coração divino, mas, para que Lhe sejam mais agradáveis ainda, formemos a intenção de os unirmos com os merecimentos do Redentor e de toda a corte celestial, dizendo muitas vezes: *_† "Eterno Pai, nós Vos oferecemos o sangue, a paixão e a morte de Jesus Cristo, as dores de Maria
Santíssima e de São José, para satisfação de nossos pecados, em sufrágio das almas do purgatório, pelas necessidades da santa Madre Igreja e pela conversão dos pecadores"³³._*

Aos obséquios indicados podem acrescentar-se os seguintes:

1°. Percorrer cada dia as estações da Via-Sacra, ou sufragar de outra forma aquelas almas do purgatório que em vida mais se esforçaram por desagravar a Jesus Cristo, no tempo de carnaval.

2º. Em todo este tempo, fazer com mais perfeição e fervor as ações ordinárias, em particular as que se referem diretamente ao serviço de Deus.

3º. Finalmente, visto que Deus é ofendido especialmente pelos excessos no beber e comer e pelos pecados de impureza, mortificar mais do que em outros tempos o apetite, tanto na qualidade como na quantidade da comida, e, com licença do Diretor, alguma penitência corporal.

_32) Indulgência de 300 dias cada vez._
_33) Indulgência de 100 dias._
Júlia - para que eu consiga me batizar.
*Quinta-feira. O Carnaval Santificado e as Divinas Beneficências*

_Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris_ - "Guarda fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas suas riquezas" (Eclo 22, 28)

Sumário. _Para desagravar o Senhor ao menos um pouco dos ultrajes que lhe são feitos, os santos aplicavam-se nestes dias do carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à oração, à penitência, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com seu Bem-Amado. Procuremos imitar estes exemplos, e se mais não pudermos fazer, visitemos muitas vezes o Santíssimo Sacramento e fiquemos certos de que Jesus Cristo no-lo remunerará com as graças mais assinaladas._

I. Por este amigo, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender que é Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagina quanto o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por pessoas que lhe estão consagradas.

Jesus Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.

É por isso que os santos a fim de desagravarem o Senhor de tantos ultrajes, aplicavam-se no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo do carnaval, Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores.

O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso a fim de expiar as intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os santuários e realizar exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas pessoas por ele dirigidas, que se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com brandura e exortava-as à comunhão frequente.

Numa palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus Sacramentado ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas.

II. _Ut et in bonis illius laeteris - "para que te alegres com ele nas suas riquezas"_. O meio para adquirires um tesouro imenso de méritos e obteres do céu as graças mais assinaladas, é seres fiel a Jesus Cristo em sua pobreza e fazer-lhe companhia neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo: _Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris_. Ó, como Jesus agradece e retribui as orações e os obséquios que nestes dias de carnaval lhe são oferecidos pelas suas almas prediletas!

Conta-se na vida de Santa Gertrudes, que certa vez ela viu num êxtase o divino Redentor que ordenava ao Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro os atos de virtude feitos por ela no carnaval, a fim de a recompensar com graças especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto Santa Catarina de Sena estava orando e chorando os pecados que se cometiam na _quinta-feira gorda_, que o Senhor a declarou sua esposa, em recompensa, como disse, dos obséquios praticados pela santa no tempo de tantas ofensas.
Amabilíssimo Jesus, não é tanto para receber os vossos favores como para fazer coisa agradável ao vosso divino Coração, que quero nestes dias unir-me às almas que Vos amam, para Vos desagravar da ingratidão dos homens para convosco, ingratidão essa que foi também a minha, cada vez que pequei. Em compensação de cada ofensa que recebeis, quero oferecer-Vos todos os atos de virtude, todas as boas obras, que fizeram ou ainda farão todos os justos, que fez Maria Santíssima, que fizestes Vós mesmo, quanto estáveis na terra.

Entendo renovar esta minha intenção todas as vezes que nestes dias disser: *_† Meu Jesus, misericórdia³⁵_*. Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, apresentai vós este humilde ato de desagravo a vosso divino Filho, e por amor de seu sacratíssimo Coração obtende para a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam grande número de pecadores.

_35) Indulgência de 300 dias cada vez._
Forwarded from Auxilium Christianorum
Calendário Tradicional de Março
Forwarded from Divina Traditio (Jefferson Vieira)
exercicio_devoto_de_desagravo_para_os_3_dias_do_carnaval_14x21cm.pdf
307.8 KB
Exercício de desagravo para os 3 dias do Carnaval.

(Para quem deseja imprimir, está no tamanho 14x21cm. Em formato livreto, fica ótimo)
_SEMANA DA QUINQUAGÉSIMA_
*Domingo. A Paixão de Jesus Cristo e os divertimentos do carnaval*

_Consummabuntur omnia, quae scripta sunt per prophetas de filio hominis_ - "Será cumprido tudo o que está escrito pelos profetas no tocante ao Filho do homem" (Lc 18, 31)

Sumário. _Não é sem uma razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. A nossa boa Mãe deseja que nós, seus filhos, nos unamos a ela, para compadecermos do seu divino Esposo, e o consolarmos com os nossos obséquios, ao passo que os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam todos os ultrajes descritos no Evangelho. Quer ela também que roguemos pela conversão de tantos infelizes, nossos irmãos. Não temos porventura motivos para isso?_

I. Não é sem razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. Deseja a nossa boa Mãe que nós, seus filhos, nos unamos a ela na compaixão de seu divino Esposo, e o consolemos com os nossos obséquios; porquanto os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam os ultrajes descritos no Evangelho. _Tradetur gentibus - "Ele vai ser entregue aos gentios"_. 

Nestes tristes dias os cristãos, e quiçá entre eles alguns dos mais favorecidos, trairão, como Judas, o seu divino Mestre e o entregarão nas mãos do demônio. Eles o trairão, já não às ocultas, senão nas praças e vias públicas, fazendo ostentação de sua traição! Eles o trairão, não por trinta dinheiros, mas por coisas mais vis ainda: pela satisfação de uma paixão, por um torpe prazer, por um divertimento momentâneo! _Illudetur, flagellabitur et conspuetur - "Ele será mortejado, flagelado e coberto de escarros"._

Uma das baixezas mais infames que Jesus Cristo sofreu em sua Paixão, foi que os soldados lhe vendaram os olhos e, como se ele nada visse, o cobriram de escarros, e lhe deram bofetadas, dizendo: Profetiza agora, Cristo, quem te bateu? Ah, meu Senhor! Quantas vezes esses mesmos ignominiosos tormentos não Vos são de novo infligidos nestes dias de extravagância diabólica?

Pessoas que se cobrem o rosto com uma máscara, como se Deus assim não pudesse reconhecê-las, não têm pejo de vomitar em qualquer parte palavras obscenas, cantigas licenciosas, até blasfêmias execráveis contra o santo Nome de Deus! *_Et postquam flagellaverint, occident eum - "Depois de o terem açoitado, o farão morrer"_*. Sim, pois se, segundo a palavra do Apóstolo, cada pecado é uma renovação da crucifixão do Filho de Deus.

Nestes dias, Jesus será crucificado centenas e milhares de vezes. É exatamente isto que Jesus Cristo quis dizer a Santa Gertrudes aparecendo-lhe num domingo de Quinquagésima, todo coberto de sangue, com as carnes rasgadas, na atitude do _Ecce Homo_, e com dois algozes ao lado, os quais lhe apertavam a coroa de espinhos e o batiam sem piedade. Ah! Meu pobre Senhor!

II. Refere o Evangelho em seguida, que, aproximando-se Jesus de Jericó, um cego estava sentado à beira da estrada e pedia esmolas. Ouvindo passar a multidão, perguntou o que era. Sabendo que passava Jesus de Nazaré, apesar da gente o ralhar, a fim de que se calasse, não cessava de gritar: _Jesus, Filho de Davi, tende piedade de mim_ (Lc 18, 38). Por isso mereceu que, em recompensa de sua fé, o Senhor lhe restituísse a vista: _Fides tua te salvum fecit - "A tua fé te valeu"._

Se quisermos agradar ao Senhor, eis aí o que também nós devemos fazer. Imitemos a fé daquele pobre cego, e neste tempo de desenfreada licença, enquanto os outros só pensam em se divertir com prazeres mundanos, procuremos estar, mais que de ordinário, diante do Santíssimo Sacramento. Não nos importemos com os escárnios do mundo, lembrando-nos do que diz São Pedro Crisólogo. *_Qui iocari voluerit cum diabolo, non poterit gaudere cum Christo - “Quem quiser brincar com o demônio, não poderá gozar com Cristo"._*
Quando nos acharmos em presença de Jesus no tabernáculo, peçamos-lhe luz para detestarmos as ofensas que o magoam tão profundamente. Peçamos-lhe não somente para nós mesmos, senão também para tantos irmãos nossos desviados: _Domine, ut videam - "Senhor, fazei-me ver"._ Amabilíssimo Jesus, Vós que sobre a cruz perdoastes aos que Vos crucificaram, e desculpastes o seu horrendo pecado perante o vosso Pai, tende piedade de tantos infelizes que, seduzidos pelo espírito da mentira, e com o riso nos lábios, vão neste tempo de falso prazer e de dissipação escandalosa, correndo para a sua perdição.

Ah! Pelos merecimentos de vosso divino sangue, não os abandoneis, assim como mereceriam, reservai-lhes um dia de misericórdia, em que cheguem a reconhecer o mal que fazem e a converter-se. Protegei-me sempre com a vossa poderosa mão, a fim de que não me deixe seduzir no meio de tantos escândalos e não venha a ofender-Vos novamente. Fazei que eu me aplique tanto mais aos exercícios de devoção, quanto estes são mais esquecidos pelos iludidos filhos do mundo. 

Atendei, Senhor, benigno às minhas preces, e soltando-me das cadeias do pecado, preservai-me de toda a adversidade" (Or. Dom. curr.). † *_Doce Coração de Maria, sede minha salvação._*
*Terça-feira. O pecador expulsa Deus do seu coração*

_Qui dixerunt Deo: Recede a nobis, et scientiam viarum tuarum nolumus_ - "Disseram a Deus: Retira-te de nós, pois não queremos conhecer os teus caminhos" (Jó 21, 14)

Sumário. _O pecador sabe que Deus não pode ficar com o pecado; vê que pecando obriga a Deus a afastar-se. Diz-Lhe portanto, não com palavras, mas de fato: Senhor, já não podeis ficar junto com o meu pecado e quereis partir, podeis ir-Vos embora. Expulsando assim Deus de sua alma, deixa entrar imediatamente o demônio, que dela toma posse. Que baixeza! Irmão meu, dize-me: praticaste tu também tão grande vilania para com Jesus Cristo? Terás a triste coragem de a tornares a praticar no futuro?_

I. Deus vem a morar numa alma que o ama; é o que Jesus Cristo mesmo nos assegura dizendo: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará e viremos a ele e faremos nele morada: _Ad eum veniemus, et mansionem apud eum faciemus"_ (Jo 14, 23). Notemos as palavras: _mansionem faciemus - "faremos morada"_. Deus vem à alma a fim de nela permanecer sempre, de sorte que nunca a deixa, a não ser que a alma o faça sair, como diz o Concílio de Trento.

Mas, Senhor, Vós sabeis desde já que aquele ingrato Vos expulsará em qualquer momento: por que não partis agora? Quereis esperar que ele mesmo Vos expulse? Deixai-o e parti antes que ele Vos faça sofrer essa grande injúria. Não, responde Deus, não quero retirar-me, enquanto ele mesmo não me repelir. Assim, quando a alma consente no pecado, diz a Deus: Senhor, apartai-Vos de mim. _Dixerunt Deo: recede a nobis_ (Jó 21, 14). Não o diz vocalmente, mas de fato, como afirma São Gregório: _Dicit: Recede, non verbis, sed moribus._

O pecador sabe antecipadamente que Deus não pode ficar com o pecado; vê que pecando obriga a Deus a afastar-se. É como se Lhe dissesse: Já que não podeis ficar junto com o meu pecado, já que quereis partir, podeis retirar-Vos. E expulsando Deus de sua alma, deixa entrar imediatamente o demônio, que dela toma posse. Pela mesma porta por onde sai Deus entra e vem estabelecer-se o seu inimigo: _Et intrantes habitant ibi (Mt 12, 45) - "Entrando habitam ali"._

Ao batizar-se uma criança, o padre ordena ao demônio: _Sai desta alma, espírito imundo e cede o lugar ao Espírito Santo_. Com efeito, aquela alma recebendo a graça converte-se em templo de Deus, como diz São Paulo (1Cor 3, 16). O contrário sucede inteiramente, quando o homem consente no pecado; então diz a Deus que reside em sua alma: Sai de mim, ó Senhor, e cede o lugar ao demônio. É disto exatamente que o Senhor se queixou a Santa Brígida, dizendo que é tratado pelos pecadores como um rei expulso de seu trono, no qual vai ser substituído por um salteador.

II. Não há mágoa mais sensível do que o ver-se pago com ingratidão por pessoas amadas e favorecidas. Consideremos portanto, como não deve ficar magoado o Coração sensibilíssimo de Jesus Cristo em ver-se posposto a um vil demônio e expulso brutalmente de uma alma pela qual derramou o seu preciosíssimo Sangue; tanto mais que semelhante baixeza se repete no mundo inteiro, em cada hora, milhares de vezes, especialmente nestes dias de carnaval.

Meu irmão, tu ao menos compadece-te de teu aflito Senhor, dá-lhe desagravo por frequentes atos de amor e se no passado o tivesses magoado, pede-lhe humildemente perdão. Assim, meu Redentor, todas as vezes que pequei, expulsei-Vos de minha alma e fiz tudo que Vos deveria tirar a vida, se ainda pudésseis morrer. Eu Vos ouço perguntar-me: _Quid feci tibi, aut in quo contristavi te? Responde mihi_ - Que mal te fiz, e em que te desagradei, para me causares tantos desgostos? Perguntais-me, Senhor, que mal me fizestes? Destes-me o ser e morrestes por mim: é este o mal que me haveis feito.

Que deverei, pois, responder? Confesso que mereço mil infernos; e é justo que a eles me condeneis. Lembrai-Vos, porém, do amor que Vos fez morrer por mim na cruz; lembrai-vos do sangue que por mim derramastes e tende piedade de mim.
Mas já o sei, não quereis que desespere; ou antes me avisais de que Vos conservais à porta do meu coração, donde Vos bani e que nela estais batendo por meio das vossas inspirações, a fim de novamente entrar. Gritais-me que eu abra: _Aperi mihi, soror mea_ (Ct 5, 2). Sim, meu Jesus, expulso o pecado; arrependo-me de todo o meu coração e amo-Vos sobre todas as coisas.

Entrai, meu amor, está aberta a porta; entrai e nunca mais Vos afasteis de mim. Prendei-me com os laços do vosso amor e não consintais que me torne a separar de Vós. Não, meu Deus, não queremos mais separar-nos; abraço-Vos, aperto-Vos ao meu coração; dai-me a santa perseverança: _Ne permittas me separari a te - "Não permitais que me separe de Vós"_. Maria, minha Mãe, socorrei-me sempre, rogai a Jesus por mim; alcançai-me a felicidade de nunca mais perder a sua graça.