Canal ARTE DA GUERRA
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Forwarded from Raphael Machado
https://strategic-culture.su/news/2025/03/29/quem-sera-proximo-papa-por-que-isso-importa/

Há poucas semanas eu escrevi para a Fundação Cultura Estratégica uma avaliação dos principais papáveis, bem como das circunstâncias políticas e geopolíticas de uma eleição papal no século XXI. O artigo torna-se hoje oportuno pela morte do Papa Francisco e a iminente eleição de um novo Papa.
Forwarded from Raphael Machado
Como está todo mundo comentando sobre os seus papáveis favoritos ou mais prováveis, eu vou colocar meu dinheiro no nome de Pietro Parolin.

Depois de Francisco, me parece que o Vaticano precisa de um "Papa cinzento", um homem do "Centrão" da Igreja, com capacidade para navegar entre conservadores e progressistas. Parolin seria o homem para isso por representar o justo meio termo entre as posições de um Francisco e de cardeais como Sarah ou Müller.

A importância disso estaria precisamente em impedir um cisma em um momento extremamente delicado para a Igreja Católica. Um novo Papa "progressista" (e as opções disponíveis parecem ser ainda mais progressistas do que era Bergoglio) agitaria o Mundo Católico na direção de um profundo conflito que poderia, sim, culminar em uma fragmentação da Igreja.

Uma alternância imediata, por sua vez, para um Papa conservador poderia ser vista como uma mudança radical e repentina demais, também apta a gerar fragmentação interna - especialmente considerando que Francisco sucedeu a Bento XVI. Um Papa "cinzento", um burocrata moderado com pontes nos dois "partidos" do Vaticano seria a opção mais adequada.

Ou qualquer outra figura que represente precisamente esse espírito de um "Centrão" capaz de reconciliar as facções da Igreja, e há nomes do tipo como o Cardeal Pierbattista Pizzaballa. Na preferência por um giro não radical na direção conservadora, opções que poderiam desempenhar função semelhante seriam as dos cardeais Erdo e Eijk.

Não obstante, Parolin é ainda a opção mais interessante por motivos externos à Igreja. Ele é o Lavrov do Vaticano, provavelmente o maior diplomata que a Igreja já teve nos últimos 100 anos, está plenamente consciente da inevitabilidade da multipolaridade e a sua estratégia se fundamenta precisamente em transformar o Vaticano em um ator relevante em uma ordem multipolar. É praticamente um novo Richelieu.

Ele navega com tranquilidade em Moscou e Pequim, possui boas relações em Caracas, dialoga tranquilamente com as lideranças muçulmanas e é suficientemente pragmático para garantir os interesses geopolíticos da Igreja em todas as relações com outros países.

Por isso eu diria que Parolin cumpre, resumindo, dois objetivos fundamentais no século XXI: 1) Manter a Igreja unificada; 2) Garantir a relevância do Vaticano na nova ordem multipolar.
Forwarded from Raphael Machado
O Legado do Papa Francisco

Comentar sobre o Papa Francisco é complicado porque ele foi provavelmente o maior alvo de desinformação dentre os Papas do último século. Sim, em alguma medida mais até do que Pio XII e Bento XVI porque a desinformação contra Francisco às vezes assumia o tom de elogio e defesa (enquanto Pio XII e Bento XVI foram vítimas de difamação pura e simples).

Forças subversivas desejosas por se apropriar da autoridade papal, não raro colocavam palavras na boca do Papa, ou inventavam interpretações surreais e delirantes para os seus escritos e discursos. Do outro lado, também, os reacionários se acostumaram a teatralizar uma indignação permanente, com toda manifestação do Papa virando motivo para escândalo e drama.

Ao mesmo tempo, porém, o próprio Papa Francisco - extremamente midiático, adaptado à sociedade do espetáculo em sua era de virtualização - dava azo a ambiguidades com declarações e gestos confusos. Ademais, o fato de seus discursos não raro se assemelharem ao conteúdo de documentos oficiais da ONU e do Fórum de Davos no que concerne o ambientalismo oficial, o nomadismo cosmopolita, os direitos humanos, etc. (quase como se tentasse dar uma "leitura católica" dos fenômenos da pós-modernidade) também não ajudava.

A sua visão sobre a questão da imigração irrestrita parece inteiramente equivocada. Com um enfoque no sofrimento individual do imigrante, Francisco não visualizava que o estadista é como um pastor encarregado de cuidar das suas ovelhas, e que ele não pode sacrificar o seu próprio rebanho pela pretensão arrogante de salvar e se apropriar de todas as ovelhas do mundo (ainda mais, quando, do lado de fora da cerca, entre as ovelhas que aguardam, abundam lobos com pele de ovelha). O que Francisco demandava, portanto, era que os estadistas traíssem seus deveres e sacrificassem conscientemente seus próprios povos em nome da "humanidade".

A Encíclica Fratelli tutti não é outra coisa senão a consagração desse discurso etnomasoquista e contraproducente em uma era de imigração em massa, apesar de outros aspectos dela serem bastante pertinentes e verdadeiros, como a crítica da especulação financeira e a sujeição da propriedade privada ao bem comum e à dignidade humana. Ela vai tão longe quanto defender concepções de governança global para gerenciamento de pandemias na linha do que foi apregoado por Klaus Schwab, criticando ainda os "populistas" por seguirem seu próprio caminho.

Uma leitura humanista católica do imigracionismo teria dado mais ênfase nas causas e estaria menos preocupada com constranger e admoestar os países que padecem com a ameaça da substituição demográfica.

Não obstante, também na Fratelli tutti encontramos um bom documento sobre o diálogo interreligioso sem ecumenismo. Apesar do próprio Papa ter tido momentos controversos e ambíguos, como aquele que envolveu a Pachamama, ele também conduziu uma ambiciosa projeção que aproximou de forma inaudita a Igreja Católica da Igreja Ortodoxa e da Igreja Anglicana, levando às melhores e mais próximas relações com essas outras expressões da Cristandade em séculos.

Em relação a outros temas, o que se viu foi a fusão entre a ambiguidade ou ineficiência comunicacional do Papa e o oportunismo desinformador da mídia. Especialmente no que concerne a questão LGBT, o aborto e o divórcio, onde o Papa Francisco buscou (talvez não da maneira mais adequada) a aproximação com os "sofredores", mas sem realmente abandonar a doutrina católica em relação a esses tópicos.

A Encíclica Laudato si' foi um esforço extremamente interessante de construir as bases de um ambientalismo integral católico, que não exclui o homem (como se dá no ambientalismo niilista), pondo em cheque o comportamento parasitário e rapace das elites econômico-financeiras, que devastam o mundo em nome da acumulação de capital. Mas em sua construção ela pressupõe como dado o "consenso científico sobre o aquecimento global", cada vez mais questionável.
Forwarded from Raphael Machado
Também causava estranheza o seu rechaço pelas expressões simbólicas de hierarquia e poder, que fazem objetivamente parte do papel representativo da Igreja Católica. A Igreja tem como uma de suas funções representar o Reino dos Céus e, por isso, é símbolo de hierarquia, glória, etc., o que se expressa na pompa, nos ritos, e por aí vai.

Mas por outro lado, essa recusa da representação da transcendência através da estética se dava em favor da centralidade do amor aos pobres, aos fracos e aos necessitados, que jaz no coração do Evangelho. Também a Igreja se desenvolve dialeticamente, e em reação aos exageros da teologia da libertação, o Catolicismo experimentou um breve período de "fechamento" e "distanciamento" que coincidiu com a ascensão do neoliberalismo e do neoconservadorismo.

Em reação, por sua vez, aos exageros dessa abordagem, Francisco lavava os pés dos enfermos e dos refugiados, levava a sério a caridade e a misericórdia, e efetivamente atualizou a Doutrina Social da Igreja com uma competente crítica do capitalismo pós-moderno e suas consequências desumanizantes e desenraizadoras. Nesse sentido, foi um Papa com um olhar concentrado especificamente nos humildes do mundo e foi, correspondentemente, um Papa cuja virtude maior foi a humildade.

Em muitos outros temas, porém, ele foi a absoluta continuação do papado de Bento XVI, especificamente no que concerne o papel político e geopolítico do Vaticano no mundo. Expressão disso foi a postura do Papa em relação à Palestina, cujos cristãos ele contatou diariamente por mais de 1 ano para se certificar de seu bem estar. Mas também a intensificação do diálogo com a Rússia, o entendimento com a China e a conquista de uma reabertura católica em Cuba.

Todos esses são méritos imensos do Papa Francisco enquanto chefe de Estado, aos quais se somam a centralização de todas as atividades financeiras do Vaticano no Instituto para as Obras de Religião, potencialmente blindando o Vaticano contra a especulação financeira (tanto a externa quanto a interna).

Nesse sentido, o retrato final do Papa Francisco em sua morte é de um Papa "humano, demasiado humano", tal como foi Pedro, cujo trono ele ocupou de forma digna e imperfeita por 12 anos.
Uma ampla cobertura sobre a morte do Papa Francisco no canal TPA Notícias da Televisão Pública de Angola.
Assista aos cortes com as opiniões do comentarista de geopolítica do canal, Wellington Calasans.
Assista e Compartilhe!
https://www.youtube.com/watch?v=aTPv9BOvvEU
Forwarded from Canal Visão Estratégica (Thales Rufini)
Aproveitando o lançamento desta nova série, quero saber: Qual país você gostaria que fosse feita a primeira análise de poder?
Anonymous Poll
27%
China
6%
EUA
17%
Rússia
27%
Brasil
7%
Índia
12%
Irã
1%
França
2%
Alemanha
1%
Outro
Forwarded from Raphael Machado
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”. (Fernando Pessoa, Mar Português)

Hoje recordamos o Descobrimento do Brasil e para mim é irracional que a data de hoje não seja considerada feriado.

Pedro Álvares Cabral é um herói ímpar sem cujo gesto não existiríamos. Nenhum de nós, brasileiros, existiria se um punhado de homens não tivesse tido, há 525 anos, a coragem de singrar o imenso oceano em busca de um sonho.

Não há espaço para revisões e desconstruções dessa história.

Foi descobrimento sim, em um sentido literal, porque as Américas jaziam encobertas perante o resto do mundo. Enquanto Europa, Ásia e África conheciam-se e interagiam há milênios, a América jazia sob um véu, e foi graças a homens como Colombo e Cabral que a América apresentou-se perante os outros continentes do mundo.

Foi um ato heroico e glorioso, justificado por si mesmo, bem como pelo seu resultado: nós e nossa pátria. Os portugueses deram início a uma história que levou ao nascimento de um dos maiores Impérios do Hemisfério Sul. A grandiosidade e a glória justificam todas as coisas.

O problema, porém, é que a maioria das pessoas hoje (seja no Brasil ou na Europa) tem a alma pequena. E como alertou o Poeta, para os que têm a alma pequena, talvez o Descobrimento do Brasil não tenha valido a pena. Os mesquinhos vêm com suas lamúrias sobre o passado, sobre o que aconteceu e o que deveria ter acontecido, mas os lamurientos nada têm a oferecer além de melodrama.

A depender de gente dessa estirpe (que é a eterna estirpe de Efialtes) não teria havido Pirâmides, Muralha da China, Colosso de Rodes, a expedição de Alexandre, o Império Romano, as Cruzadas, etc., tudo aquilo sobre este mundo que é admirado por aqueles que não têm a alma pequena.

Enfim, Portugal veio e aqui nasceu um Império, um povo novo, uma nova cultura, uma nova civilização. Não respeitar isso está na equivalência dessa gente com problemas paternos que só Freud explica.
Bom dia!! O Boletim de hoje do Canal Guerra Russo-Ucraniana está no ar. O destaque do dia é o impasse nas negociações previstas para Londres, após Zelensky ter afirmado que a Ucrânia não reconhecerá a Crimeia como Russa. Marco Rubio já cancelou sua participação. Veja em: https://t.me/GuerraRussoUcraniana/3938